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Governar é administrar prioridades

"Não importa a cor do gato. O importante é que ele mate os ratos". (Deng Xiaoping)

01. Quem diria que a novela nossa de cada dia ousasse, em tempos que ainda nos são próximos, tocar no assunto, especialmente no horário nobre. Com alguma ousadia até, foi o que aconteceu em O Rei do Gado. O bom texto (além do bom-senso) do autor, Benedito Rui Barbosa, abriu olhos e mentes dos metropolitanos, digamos assim, para uma realidade que não está tão longe assim e influi diretamente em nossas vidas. A Reforma Agraria aí está, bate à nossa porta, invade nossas ruas…

02. Sua Santidade, João Paulo II, não poupou o ilustre visitante de algumas severas observações sobre o mesmo tema. Sua implantação – o mais breve possível – é um ato de coragem e ousadia, lembrou o Papa. Depois da audiência, o presidente Fernando Henrique ainda teve de conviver com o protesto de seus pares, os intelectuais italianos. Eles vêem FHC reticente nessa questão que consideram "inadiável". O presidente tentou argumentar, falou nos bons resultados do projeto "Lavoura Comunitária", mas não foi suficiente. A questão da terra já havia alcançado projeção internacional.

03. Os protagonistas saem pelas estradas do País. Partem de diversas paragens para uma caminhada cívica rumo a Brasília. A chegada está prevista para 17 de abril, exatamente quando se reverencia o primeiro aniversário das mortes de Carajá. O secular estandarte da Reforma Agrária pressiona o Governo e revela a cara de uma Nação que, a bem da verdade, poucos de nós conheciam. Mas, inquestionavelmente, é uma dessas mudanças inevitáveis ao Brasil do Terceiro Milênio.

04. Não me recordo o autor da frase. Arriscaria dizer que foi uma das tantas preciosidades do doutor Ulysses Guimarães: "Governar é administrar prioridades". No entanto, é lapidar para desvendar as idiossincrasias de um Governo que ainda não encontrou o caminho das pedras e não sabe distinguir entre a causa pública e os devaneios pessoais. Alguém duvida que, se o mesmo esforço concentrado para aprovação da emenda da reeleição fosse canalizado para algumas questões essenciais de nosso dia-a-dia (a Reforma Agrária, por exemplo), estaríamos hoje num estágio bem mais avançado da solução do problema e evitando uma série de constrangimentos para toda a sociedade?

05. É notório que o tema Reforma Agrária hoje já não tem a conotação "revolucionária" dos anos 60. Embora o contingente de desvalidos que perambula pelos quatro cantos do País ainda abrigue uma forte tendência política-partidária em seus atos e objetivos. Por isso mesmo, os homens de Brasília deveriam se debruçar com afinco para arbitrar desavenças e caminhar, com segurança, para a almejada solução. É certo que as coisas não vão acontecer assim, do dia para noite. Por isso, uma férrea vontade política só ajudaria nessa difícil — mas, necessária — implantação da justiça social num País que ainda guarda, como seu bem maior, a esperança de um futuro promissor.

06. No recente giro pela Europa, o presidente Fernando Henrique reclamou das críticas "injustas". Afinal, argumentou, muitos dos problemas que assolam o Brasil de hoje vêm sendo postergados pelos governos que o precederam e que, por isso mesmo, a solução passa por um intrincado feixe de negociações. Essa assertiva serve como amparo para sua defesa, mas soa também como uma estridente sirene de alerta. Ou seja, significa dizer que problema não resolvido é problema acumulado e agravado. Nunca é demais lembrar a velha citação: "Se Maomé não vai à montanha, a montanha vem até Maomé". Só que em forma de avalanche…É o que acontece quando não se resolve um problema e vem outro e outro que se acumula. Um dia, eles acabam soterrando nossos sonhos. Implacavelmente. Olho vivo, presidente…

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