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Tenho acompanhado, com incontrolável desalento, as discussões sobre as expectativas do segundo turno das eleições municipais [que ocorrem em 15 cidades brasileiras de porte no domingo, dia 27].
Por dever de ofício devo escrever minhas impressões sobre o tema, mas tenho plena convicção que, afora minha desilusão, pouco ou nada acrescentarei ao debate que já está posto, e dizem inevitável: o avanço da direita, a simpatia com que os ultras, os negacionistas e os truculentos despertam nas massas, a conversa de que os progressistas, em sua ladainha intelectualizada, se afastaram dos pobres e humildes (ou por estes foram abandonados), as pessimistas projeções para o pleito presidencial de 2026, o quem é quem no jogo político da polarização, a falta de jovens, promissoras e bem-intencionadas lideranças – enfim, as pendengas todas sobre as quais os analistas políticos, sociólogos e que tais se debruçam para prever o que está por vir e não parece nada bom ao senso comum.
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Confesso que, em outros tempos, no Brasil da redemocratização, imaginei-me romanticamente capaz, de como jornalista, colaborar, ainda que minimamente, para que as pessoas dos mais variados estamentos sociais entendessem mais solidariamente e melhor o país que vivemos.
Tinha como direção e norte a frase que ouvi do dramaturgo Gianfrancesco Guarnieri, então secretário municipal do prefeito Mário Covas, num encontro com amigos e jornalista:
“Importante nossa contribuição para a construção de um Brasil de todos os brasileiros.”
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Hoje, sinceramente, e sem apontar o dedo acusador para este ou aquele, me pergunto e me inquieto:
“Será mesmo que o povão sonha e almeja mesmo a construção de um Brasil inclusivo, contemporâneo, socialmente justo e fraterno para si e os patrícios? Ou a coisa toda anda mais no plano supostamente empreendedor do eu-quero-me-dar-bem-o-resto-é-só-o-resto?”.
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De qualquer forma, essas minhas digressões baratas se perdem no buraco negro da existência de cada um e de todos, diante da extraordinária figura e grandíssimo exemplo de fé na humanidade do ex-presidente uruguaio José Pepe Mujica (2010-2015).
Neste sábado, dia 19, ele reapareceu em público na cerimônia de encerramento da campanha eleitoral do grupo político a que pertence – e, mesmo em delicado estado de saúde, nos deixou a mensagem/lição de vida:
“Devemos trabalhar pela esperança”.
“Estou feliz porque vocês estão aqui, porque quando meus braços partirem haverá milhares de armas substituindo a luta”.
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Acompanhem seu tocante e histórico depoimento:
O que você acha?