Era garoto ainda quando o pai resolveu me presentear com a chave de casa.
Esta, digamos, entrega tinha lá sua simbologia nas famílias italianas do bairro operário do Cambuci.
Quanta honraria.
Significava que eu o digníssimo presenteado era um garoto responsável e cousa e lousa e mariposa. Já podia me entender como adulto (olhem a responsa!) e, assim, cair no mundo (nem tanto, mestre) e chegar a hora que bem desejasse em casa -desde que avisasse a família com devida antecedência.
Ressalvo que minhas irmãs, com mais idade que eu, não tinham este privilégio.
Não me condenem, ok? Nem ao pai….
Era praxe na época. Entre os anos 50 e 60.
“Filha minha não fica solta no mundo não.” – dizia o Velho Aldo, com ares e olhares de senhor austero que era.
(…)
Aconteceu que a zelosa minha mãe, Dona Yolanda, não se convenceu muito que aquele rapazinho de 15 para 16 anos já era tão adulto assim.
Botou vigilância redobrada no garotão aqui.
Toda vez que eu saía de casa ela vinha com um detalhado sermão para não que fizesse isso, aquilo e aquel’outro e tomasse muito cuidado com o resto todo. Que o mundo anda à espreita dos vacilões e distraídos.
O final da conversa era sempre o mesmo.
“Cuidado, do jeito que você é, ainda vai perder essa chave. Vai dormir na rua.”
(…)
Tanto falou que, certa feita, dito e feito, perdi a chave.
Não dormi na rua.
Ela atenciosa e dedicada levantou para abrir a porta antes que eu acordasse “toda a vizinhança”.
Na manhã seguinte ouvi o que merecia e o que não merecia.
Foi um quasquasquás danado.
Nem por isso, a Dona Yolanda, deixou de me amar e cuidar de mim vida afora.
(…)
Lembro esta história e a dedico ao craque Neymar, pois ele anda molestado por tantas críticas justas e/ou injustas que vem recebendo da tal crônica especializada.
(Que de especializada, diga-se, não tem lá muita gente, não)
Em plena Copa do Mundo, com tantos e longos programas de debates (?) esportivos, sobram bestagens nos comentários de quem nunca jogou bola e de outros tantos que jogaram e, registre-se, também aprontaram das suas.
Haja falação…
(…)
Menino Neymar, menino do seu tempo, com talento raro e deslumbres naturais à sua idade, entenda essa turma como uma mãezona zelosa e por vezes rabugenta, nunca deixou de lhe amar como notável jogador que é…
Esquece o Galvão, o Casão e outros “ãos” da latinha e joga tua bola, do jeito que lhe é natural.
O resto é farelo que o vento leva…
Ouça Mano Brown e Ben Jor e…
… faz o Brasil campeão, menino.
*(foto: lucas figueiredo/cbf)
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