A Moreninha do Samba.
Não, a Hebe não é loira como a vemos hoje. Também não era apresentadora de TV.
Aliás, nem TV existia naquela época, mas Hebe já estava lá.
A então beldade, como o apelido sugeria, era cantora de samba e estava com um promissor sucesso pelas boates de São Paulo nos anos 40. Não tinha sido fácil, já que sua vida fora bastante humilde. A música, porém, estava na família. Hebe, ainda mocinha, juntou-se à irmã e formaram a dupla Rosalinda & Florisbela, e saíram cantando por aí. Não demorou até Hebe passar a cantar sozinha na noite. Foi então que ganhou o ape¬lido de Moreninha do Samba.
Famosa, com talento e contatos, Hebe acabou conhecendo o rei do Brasil. Não era nenhum remanescente da família real brasileira, mas Assis Chateaubriand, o proprietário do mega-conglomerado de jornais e emissoras de rádio, os Diários As¬sociados.
Na ocasião, Chatô estava orquestrando um verdadeiro comboio para ir ao porto de Santos. Um programa não muito condizente com a alta sociedade e nada glamoroso. Havia, po¬rém, um propósito: naquele local desembarcaria todos os equipamentos necessários para a implantação da primeira emissora de TV do País. Chatô queria todas as pompas e circunstâncias para o acontecimento.
A Moreninha do Samba não poderia ficar de fora.
Era março de 1950.
Desceram a serra, subiram a serra e lá estava o material em São Paulo. O resto da história é conhecido: do primeiro jornal “Imagens do Dia” ao reality show “Big Brother Brasil”, a sociedade brasileira jamais foi a mesma.
Hebe Camargo ainda está entre nós.
Em setembro de 1950, seis meses após o retorno do comboio, da instalação dos equipamentos e dos pouquíssimos aparelhos de TV vendidos, a transmissão foi ao ar. Ali nascia a TV Tupi de Chateaubriand. Tudo era ao vivo, uma vez que não havia videotape, ou seja, não era possível arquivar a programação. Tal como o translado do equipamento, a primeira transmissão foi um grande evento. Além dos lares que receberiam a magia TV pela primeira vez, todos os envolvidos estavam em festa. No bairro do Sumaré, de onde tudo seria transmitido, uma das mais famosas cantoras foi chamada para apresentar o Hino
Sim, era Hebe.
Mas ela ficou doente e não pôde ir.
Quem cantou no lugar dela foi Lolita Rodrigues.
Anos mais tarde, em uma entrevista, Hebe desmentiu o caso e disse que não ficou doente coisa nenhuma. Ficou foi desanimada com o tal hino. Achou a letra ruim. Sem contar que linha conhecido um rapaz e iria se encontrar com ele no mesmo horário da transmissão.
Onde seria o encontro?
Em um local onde a boemia começava a florescer com um teatro que, mais tarde, faria história e havia acabado de ser inaugurado, o Teatro Cultura Artística.
O encontro foi na Praça Roosevelt.
* Trecho do livro-reportagem “Satyrizando a Praça Roosevelt”, uma divertida narrativa sobre os 20 anos da Companhia de Teatro Os Satyros e os 60 anos da Praça Roosevelt. De autoria de Dado Carvalho, Ana Raquel Samadello e Juliana Domingues. A obra foi apresentada como trabalho de conclusão do curso de jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo, e recebeu nota máxima. Ou seja, 10.
* Volto na terça…