Foto: Reprodução Enciclopédia Itaú Cultural
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O amigo Wilson Luque me envia a notícia:
“Nesta sexta-feira (19/5), o músico Hermeto Pascoal recebeu o mais alto título da escola de ensino superior Julliard, Doutor Honoris Causa. O alagoano de 87 anos já ganhou inúmeros prêmios e reconhecimento internacional. A cerimônia aconteceu no Alice Tully Hall do Lincoln Center, em Nova York, às 12h (Brasília) e foi transmitida pelo site da Julliard.”
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Rapaz, que vacilo o meu, como não fiz ao menos um breve registro dessa grande conquista de um notável brasileiro?
Registro mais do que merecido, diga-se.
Não sabia.
Nada li a respeito.
Precisou o Wilson no zap me avisar.
Desconfio que, como eu, a grande mídia comeu bola.
E feio!
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Mesmo com o imperdoável atraso de sete dias, vai aqui meu post/homenagem.
Consideremos a bem da verdade: Hermeto, mesmo com todo o seu talento e criatividade, sempre circulou à margem das grandes manchetes nesses seus mais de 60 anos de estrada.
Mesmo nos cadernos de cultura, acreditem!
A música instrumental nunca foi a menina dos olhos das nossas pautas.
Vez ou outra, aqui e ali, pipocavam uma ou outra reportagem mais completa. Mas, eram raras e dispersas.
Cá entre nós, repórteres da área à época, definíamos a música/ruído/som do irrequieto alagoano como uma arte experimental.
Na real, pouco sabíamos – e estranhávamos.
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Lembro o show em São Paulo (anos 80?) em que Hermeto e o grupo de músicos causaram um rebuliço sonoro a batucar panelas, garrafas, xícaras, latas e latões numa sinfonia que provocou espanto e burburinho na plateia.
Houve outra noite que se incluiu um porco em cena – e, a partir, dos grunhidos do animal, veio o tom e o improviso para uma performance interminável.
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“Isso é música?” – perguntávamos entre o admirado e o confuso.
Tempos depois, a resposta – e o aval – quem nos deu foi o trompetista Miles Davis, um dos grandes nomes da história do jazz.
Para ele, Hermeto era “o músico mais impressionante do mundo”.
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Outro bem_aventurado musical, o baiano Caetano Veloso, também faz elogiosa referência a Hermeto em uma de suas mais belas canções, “Podres Poderes”:
Será que apenas os hermetismos pascoais
E os tons, os mil tons
Seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão
Dessas trevas e nada mais
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Mesmo quando cometia o desvario de me entender como crítico de música – por favor, não me vaiem -, sempre fui sincero em deixar claro minhas limitações. Nunca soube como classificar a música do multi-instrumentista, arranjador e maestro.
Coisa da minha ascendência da Calábria, talvez.
Há um ditado por lá que o pai sempre repetia como mantra:
“O que não entendo, eu estranho…”
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Se me permitem, vale um breve histórico de Hermeto.
Ele veio bem antes da geração de 42 – Gil, Caetano, Milton, Paulinho da Viola, entre outras – que consolidou a MPB entre nós. Fez parte da turma, mas foi um percursor. Já perambulava, como pianista e arranjador, pelas noites do Rio e São Paulo em meados dos anos 50.
Participou dos festivais, acompanhou diversos artistas, trabalhou com eles em muitos arranjos, viveu experiências variadas. Sempre trafegou, com a mesma fluência, pelo samba-canção, baião, frevo, maracatu, bossa-nova e as diversas correntes do jazz.
Sempre foi único em seu caminho.
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Numa entrevista, o saudoso Jair Rodrigues enalteceu o arranjo que Hermeto concebeu para o primeiro grande sucesso em disco, ‘Deixa isso pra lá’, lá nos primórdios da década de 60.
Ambos trabalhavam na mesma boate em São Paulo. Hermeto era parte do grupo que acompanhava Jair, o crooner e alegria das noitadas.
Os compositores Alberto Paz e Edson Menezes entregaram o samba inédito para Jair para que gravasse em compacto simples na Philips.
Jair quis testar a melodia numa dessas apresentações. Chamou os músicos para um breve ensaio e, marcando o compasso com uma das mãos (gesto que, por fim, caracterizava suas apresentações) mostrou como queria que fosse a levada da melodia.
Os musicos relutavam em compreender e aceitar.
Só Hermeto ao piano embarcou no suingue.
Foi assim que o que era para ser um samba-rasgado virou precocemente o protótipo do que hoje entendemos como ‘rap’, graças a engenhosidade de Hermeto ao piano, o único a entender o que e como Jair queria a canção.
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Na cerimônia de entrega do título, o trompetista Wynton Marsalis definiu Hermeto:
“Um artista que mescla diversos instrumentos clássicos, mas também toca em xícaras de chá, objetos não reconhecidos, tudo aquilo que tocasse sua imaginação”.
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O que você acha?