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Interseção

Tinham muito o que dizer um ao outro. Adoravam se encontrar. Há tempos haviam rompido o limite do “apenas bons amigos”. Mesmo que nada houvesse acontecido, já se entendiam, no mínimo, como cúmplices.

Estavam naquela área de interseção entre o possível e o desejável.

Queriam muito, mas hesitavam em dar o primeiro passo.

E assim se passaram os dias, lenta e soberanamente, como só e acontecer com os passar dos dias.

A sedução se contrapôs às emoções controladas.

E o que era inquietação e descoberta passou a ser rotina, hábito.

Chato, né?

Mas, era assim que eles se imaginavam seguros.

Debochavam dos comentários que ouviam que davam o namoro como certo – e o casamento, mais do que previsível.

Incrível, assim é que se sentiam felizes, plenos. Mesmo brincando de ser o que não eram – e nunca seriam.

Nas voltas das voltas que o mundo dá, eis que o inevitável acontece.

Tem nome. Chama-se Ricardão que, sem mesuras e sem mais porém, dá um tombo na moça.

O nosso amigo – aquele de tantas e tamanhas cortesias e delicadezas, o tal da conversa – estranha que ela não ligou para lhe dar o habitual “boa noite”.

Elazinha só vai dar conta do “furo” na manhã seguinte.

Lamentou, mas não deu grande importância.

Também, pudera, era uma nova mulher.

Foi o que disse ao se olhar no espelho; cabelo em desalinho e olhos de ressaca pela noite mal/bem dormida.

Aprendeu que a vida acontece.

Estar vivo é o que basta.

Além do que, o bom amigo era apenas isso: um velho e bom amigo.

FOTO NO BLOG: Jô Rabelo

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