O Ismael Fernandes era apaixonado por tudo o que fazia; fosse na vida pessoal, fosse na profissão. Amigo de todos, sempre tinha um olhar otimista ou uma palavra de alento para quem estava à sua volta. Vez ou outra, essa generosidade resultava em avaliações exageradas para este ou aquele – isto também valia para o material que produzia como colunista de TV (o melhor que conheci) ou como repórter sempre atrás de boas novas..
Naquela tarde, no longínquo ano de 1988, ele saíra da velha redação de piso assoalhado incumbido de desenvolver uma pauta rotineira no jornal regional em que trabalhávamos. Falaria sobre o trabalho assistencial desenvolvido por uma das tantas quantas instituições religiosas que existem no bairro do Ipiranga.
Quando retornou, o amigo trazia um sorriso no rosto, surpreso ele próprio com a descoberta que fizera:
–Tenho a manchete da semana, do mês, do ano. O Ipiranga e o Brasil vão ganhar uma santa.
Estranhamos.
— Segura a onda aí, Isma, alguém tentou acalmá-lo.
Ele explicou.
Acabara de conhecer a Irmã Célia Bastiana Cadorin, responsável pelo processo de beatificação e canonização de Madre Paulina que viveu e morreu no Ipiranga – e, em nosso País, construiu toda sua obra de fé e caridade. Inclusive com a fundação da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição.
Desta vez, o amigo não exagerara…
Este foi o grande furo de reportagem de sua vida.
Desde então o amigo passou a ser devoto de Madre Paulina.
Era comum vê-lo falar entusiasmado daquela que seria a primeira santa do Brasil.
Em 1991, quando Madre Paulina foi beatificada, Ismael não era mais repórter de Gazeta do Ipiranga. Reverenciou com muitas orações a decisão do papa João Paulo II.
Ismael se foi em 1996, de repente.
Seus familiares espalharam parte de suas cinzas nos jardins de entrada da sede da Congregação, na avenida Nazaré. Lá, além do prédio administrativo, do orfanato e das salas de aula, existem uma acolhedora igreja e um pequeno museu, onde repousam os despojos de Santa Paulina, canonizada em 2002.
Saudoso, lembro-me do amigo toda vez que passo por ali.
E agradeço à Santa Paulina – a quem chamávamos de “a santinha do Ipiranga – a graça de ter convivido com o inesquecível Ismael Fernandes.