“Nessa época, Jair era muito amigo de outro grande cantor, Agostinho dos Santos. Toda quarta-feira eles se encontravam para jogar futebol. Jair era lateral-esquerdo. Agostinho, um bom zagueiro central. Diziam que repetia no campo o estilo elegante que o consagrou como um cantor pré-bossa nova.
Jair não lembra se numa dessas idas à sua casa, em Cotia, para o futebol Agostinho conheceu Milton. É provável, mas não tem certeza. Certo mesmo é que Agostinho encantou-se com as músicas do Bituca. Tanto que por conta e risco as inscreveu no Festival Internacional da Canção, que a Globo realizou no Rio de Janeiro. O tímido Bituca jamais cometeria tal ousadia. Resultado: a belíssima “Travessia” ecoou soberana no Maracanãzinho. Versos concisos, melodia que a todos envolveu. Não venceu. Ficou em terceiro lugar, mas Milton foi escolhido como melhor intérprete. A partir daí, é a história que todos conhecemos.
Fala Jair:
— Quando era solteiro vivia mudando de casa. Não parávamos. Não tínhamos aquela coisa de guardar coisas. Íamos deixando tudo pelo caminho. Muda daqui, muda dali. Num desses vaivém, lembro que, certa dia, achei o caderno do Milton com os rascunhos da letra de Travessia. Que beleza. Também encontrei umas partituras que o Ivan Lins fez, lá em casa; era o arranjo de não sei que música. Guardei por uns tempos. Mas, outras mudanças vieram e sei lá onde foram parar. Se eu os tivesse guardado, hein? Seria uma relíquia inestimável daqueles tempos. Mas, tudo bem, valeu a lembrança de conviver com esse pessoal, de um talento extraordinário.”
*Agosto de 2000. O blogueiro – então repórter em trabalho para o Jornal da Tarde – entrevista o grande Jair Rodrigues em sua casa em Cotia. A pauta era sobre os festivais de MPB nos anos 60. Mas, Jair falou sobre a carreira, os filhos e os amigos.
Veja o link:
http://www.rodolfomartino.com.br/artigo.php?id_artigo=803
Hoje o mundo ficou ainda mais triste.
** Foto:Jô Rabelo