"Ainda em 66, defendi duas músicas. Uma foi do Paulinho da Viola, que ficou em quarto lugar e chamava-se Canção para Maria. A outra foi Disparada que empatou em primeiro lugar com A Banda de Chico Buarque, cantada por ele e pela Nara Leão. Em 67, defendi a música chamada O Combatente, de Valter Santos e Tereza Souza. A canção ficou entre as finalistas e aí já achei estranho porque todo mundo que entrava no palco era recebido com vaias de todos os lados. Enquanto estava cantando, eu olhava para o público. Só escutava:
– Uuuuuuuhhhhh!
– Fora, fora, fora…
– Sai daí. Fora! Sai daí!
Cantava e pensava comigo:
— Que diabo é isso? Estão aplaudindo ou estão vaiando.
Foi neste ano que o Sérgio Ricardo quebrou o violão. A música era difícil. Uma homenagem ao Garrincha, de nome Beto Bom de Bola. As pessoas sequer quiseram ouvir, já vaiaram. Falaram que a música era ruim demais. Mas, que se deixasse ele cantar para ver. Eu não sei. As vaias não deixaram o Sérgio cantar. Ele se descontrolou. Quebrou o violão e jogou no auditório. O apresentador Blota Júnior ainda tentou contê-lo, mas não deu tempo…
Isto foi já na final – e Beto Bom de Bola foi desclassificada. Mesmos assim, nós, artistas, nos unimos para ficar ao lado do Sérgio Ricardo.
Durante as eliminatórias, esperava no corredor a hora de apresentar O Combatente e escutei de alguém da alta cúpula:
— Puxa vida, não está acontecendo nada nesse festival. Está uma merda.
Depois que aconteceu aquilo com o Sérgio Ricardo, ouvi da mesma pessoa:
— Graças a Deus. Até que enfim o festival está salvo.
Então pensei comigo mesmo.
— É isso. Virou uma guerra. Tem que ser guerra mesmo. É o que estavam esperando acontecer.
Desde então, perdeu a graça. Por mim, não mais participaria de festival nenhum. O Chico Buarque e outros compositores e intérpretes também não queriam. Mas, éramos contratados e tínhamos obrigação de participar.
Pedi para o meu empresário, o falecido Corumba, da dupla Venâncio e Corumba, se eu poderia sair.
Ele disse:
— Você não pode sair. Você é contratado e tem de participar de todos os eventos musicais. E eu participei de todos e foi bravo.
Em 68, cantei a música do Vinicius de Moraes, Samba de Maria. Só cantei uma. Faltou uma nota de um jurado para eu ganhasse como melhor interprete. Já era unanimidade. Entrei como favorito ao melhor intérprete, mas os jurados não deram o prêmio para mim. Não ganhei nada. Em 69, teve a Bienal do Samba, uma espécie de preparação para esperar o festival. A fórmula estava dando sinais de desgaste e quiseram dar uma força. Defendi “Canto Geral” que ficou em quarto lugar e a Elis ganhou com Lapinha, de Baden Power. Mas, a coisa estava brava.
Tanto que no festival de 69 as ‘feras’ já não participaram. Chico, Gil, Caetano, Elis – todos ficaram de fora. Quem venceu foi Paulinho da Viola, com a música Sina Fechado. Assim se encerrou o ciclo dos festivais da TV Record. Foi uma parte bonita da nossa história."
* (Depoimento em agosto de 2000)