A propósito da exumação dos restos mortais do presidente Jango Goulart, vale o elogio ao trabalho desta mais do que necessária Comissão da Verdade. Um país precisa obrigatoriamente conhecer sua história, mesmo em suas fases mais obscuras e tristes.
Às cegas, não se caminha para o futuro.
Aproveito “o momento crucial, simbolicamente muito importante para o povo brasileiro” (no dizer do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo), param recomendar a leitura de O Beijo da Morte, de autoria dos jornalistas Carlos Heitor Cony e Anna Lee,
No livro, os autores narram detalhes de como se desenvolveu a chamada Operação Condor que dizimou os principais líderes populares da América Latina nos idos dos anos 70. Fixam-se mais atentamente nas mortes de JK, Jango e Carlos Lacerda, os líderes da chamada Frente Ampla que enfrentaria os ditadores de plantão. Mortes essas ocorridas em situações suspeitas e num curto espaço de tempo.
À época, explicam os autores, toda a apuração jornalística que se realizava sobre o assunto prescindia da chamada prova cabal – a que não deixa qualquer dúvida sobre a autoria dos crimes. Por isso, os jornalões não queriam correr o risco de levantar qualquer suspeita sobre a possibilidade.
Vale lembrar que ainda imperavam os anos de chumbo da ditadura.
Digamos que não era aconselhável – na opinião dos senhores das redações – correr riscos.
Até por isso o entrecho de O Beijo da Morte se apresenta em forma romanceada, quase ficcional. Mas, que encerra a verdade, dura e indiscutível, que os Donos do Poder de então – e desconfio que de sempre – prefeririam que nunca fosse revelada.