“… e aplicava-se a Maria Curativa
para todas as dores
– menos para as dores de amores
que já eram as mesmas desde sempre!”
*Mario Quintana no poema ‘Tão simplesmente’.
II.
Então, o amigo, entre um suspiro e outro, deixa escapar o tamanho do trompaço em que se envolveu:
“Cara, não sei o porquê a gente ama tanto uma mulher!”
Não sei se era exatamente a confissão que gostaria de ter feito no meio do expediente, num fim de tarde com um solzinho ameno que poderia ser definido como melancólico.
Ele não segurou a onda – e deixou escapar a cruel realidade.
Diria que foi assim como uma ‘bufada’ daquelas, típicas do Felipão, quando os repórteres insistem em uma pergunta que decididamente o técnico não quer responder.
Decididamente, imagino que o enrosco que o amigo está vivendo seja bem mais maior – e mais doído – do que escalar ou deixar de escalar este ou aquele nome.
Ao que tudo o indica, levou cartão vermelho, e está fora do jogo.
III.
A princípio, pego de surpresa, não soube o que lhe responder – alguém saberia?
Aliás, nem sei se ele próprio gostaria de ouvir qualquer resposta.
Tanto que aproveitou o meu silêncio constrangido – e se despediu.
“Estou atrasado para uma reunião.”
(Eu também participaria da reunião, mas deixei que seguisse à frente.)
IV.
Foi exatamente nesse momento que lembrei a máxima de outro amigo, o Escova, também conhecido como Dom Juan das Quebradas do Sacomã.
Lá naquele boteco fuleiro, onde o Sacomã entortava o rabo e o velho busão Fábrica-Pinheiros rangia a carroceria ao fazer a curva da rua Greenfeld, o safardana ensinava a quem quisesse ouvir:
“Um homem nunca deve amar louca e perdidamente uma mulher. É perigoso de ser abandonado à beira do caminho, como diz a canção do Erasmão. Deve, sim, amar louca e perdidamente várias mulheres simultaneamente e se virar para dar conta do recado. Assim, se uma delas resolver se mandar, o pobre tem as outras para o devido e necessário consolo”.