“O tempo não para no porto
Não apita na curva
Não espera ninguém”
(Reginaldo Lessa)
Nessa toada do efêmero, o que era previsto aconteceu.
Seu Mané e dona Luzia seguiram cada qual o próprio destino.
Indagado a respeito, Jeremias, tido e havido no bairro como “o interventor”, foi cirúrgico no parecer:
– Já não eram as mesmas pessoas. É natural que cada um siga o seu caminho.
Jurou de pés juntos que nada tinha a ver com a separação:
– O clima na padaria estava pesado. Só dei uma sugestão.
A linda Jacira, empossada nas funções de braço direito e esquerdo do Seu Mané, tomou partido – e nem poderia ser diferente:
-Não sei como tem mulher que abandona um homão desses!
O sábio-bebum preferia não se pronunciar:
– Vai que eles voltam amanhã ou depois, como é que fica quem falou?
Diante da insistência dos frequentadores e – por que não? – discípulos saiu-se com um título de um dos filmes de Woody Allen:
– Igual a tudo na vida. Não sei por que tanta surpresa?
Em termos de rumos tomados, direi apenas que o de dona Luzia (ou a nova Lu) apresentou um diferencial. Engatou um curso atrás do outro e, com a grana da partilha, resolveu passar um tempo fora do País.
A moçoila, como se vê, não era fraca, não.
A última notícia que se tem da figura é que ela participou de um desses reality de culinária na Austrália, pode isso? Foi desclassificada na primeira eliminatória do Masterchef de lá.
Jeremias, aquele, garante que foi uma injustiça.
– Preconceito, meus caros, xenofobia. Quem se deliciou com os quitutes da Lu sabe bem o que eu estou dizendo.
Sobre os burburinhos que os dois tiveram um romance, o malandro foi discreto:
– Prefiro não comentar.
Na outra margem do rio, deu o óbvio e o previsto. Uma coisa leva a outra, e a outra leva a uma. Jacira as funções de dona do pedaço na padaria e na vida do (inicialmente) apatetado Seu Mané.
Para surpresa de muitos, até que formaram um casal apaixonado.
No meio desse enrosco todo, sobrou para o negócio. A padaria já não era mais a mesma.
– É a crise que o país atravessa, justificava-se Seu Mané.
– Dona Luzia faz falta, arrematou Jeremias.
– Seu Mané agora só quer o deleite do novo amor, diziam os mais enciumados
(alguns cheios de ideinha em relação a Jacira).
Aliás dizem que foi sugestão da própria vender a padaria e propor um novo rumo para a vida de ambos.
Dito e feito.
Com o dinheiro arrecadado (ou parte dele), compraram um trailer adaptado, desses bem moderninhos, com comidinhas transadas e coisa e tal.
Agora, só participam de feiras e eventos – e aproveitam para curtir e conhecer esse Brasilzão de Meu Deus.
Quando não viajam, você pode encontrá-los na Vila Madalena, no meio da moçada que, faminta, sai das baladas locais.
Único senão: seu Mané não gosta quando o chamam de “tiozão” e odeia quando os mais abusados perguntam se Jacira é sua filha e provocam:
– Fala aí, sogrão.
Sabe como é, gato escaldado…