Como ia dizendo no post de ontem, Jeremias, o interventor sentimental, deu trato às ideias – e não demorou para ir da teoria à prática. Foi conversar com o ‘portuga’ na delicadeza sobre a situação que o espinafrado vivia e como o amigo Mané poderia se livrar da incomoda perseguição da patroa (até hoje não entendo porque o pessoal adora chamar esposa de patroa, enfim…).
Podia ser um grande equívoco, mas não custaria tentar.
Como ‘agitador cultural’ (belo emprego em rapaziada) de um desses Sesc/Senac/Senai da vida (nunca sei ao certo que instituição oferece o quê, a quem, mas sigamos a história), Jeremias sugeriu, assim na base do sem querer querendo, que Dona Luzia se matriculasse em um desses cursos que a nobre instituição oferecia. Havia um pouco de tudo, do prosaico cursoo de manicure e cabeleireiro até alguns mais sofisticados como design de interiores e tal.
A primeira dama ‘da padoca’ Flor de Avis só precisaria escolher o que mais lhe interessasse. De sua parte, o seu Mané deveria aliviar a carga de trabalho da mesma e lhe dar algumas horas de folga para que ela pudesse respirar novos ares e buscar novos horizontes.
– Quem sabe assim ela não se distraia e deixe de pegar tanto no seu pé, quem sabe?
“Quem sabe?”, ponderou Seu Mané, que era do tipo caladão, mas não era bobo, nem nada, e pensou logo nas horas livres que teria sem o buzinaço na orelha e, principalmente, na possibilidade de ficar – sozinho, sem policiamento preventivo – perto de Jacira, aquela tetéia.
Topou no ato.
– Não sei como lhe agradecer, ó gajo.
Não foi preciso editorial em O Estado, nem matéria de capa na Veja para convencer Dona Luzia que elazinha estava trabalhando demais e que era hora de cuidar um pouco mais dela mesma.
– Uma reciclagem sempre vai bem, madama.
Não queria dizer, mas digo: a observação do Jeremias deixou o Seu Mané ressabiado. Mas, convenhamos, aquela lindeza da Jacira merecia correr qualquer risco.
– Pode deixar, nem se preocupe. Luzia, querida, que, por aqui, eu me viro e faço os funcionários trabalharem um bocadinho mais e tudo vai continuar nos conformes.
Segura o facho, Mané. Devagar com o andor que a santa é de barro e, mesmo de casa, Dona Luzia pode desconfiar…
*Amanhã continua!