Não sou de dar pitacos na vida alheia.
Não é minha praia, nem me sinto à vontade.
Veja bem que…
Com os argumentos acima, o malaco Jeremias bem que tentou, mas não conseguiu escapar ao desabafo do inconformado Seu Mané.
O amigo abriu a comporta das reclamações, sem qualquer cerimônia: estava trabalhando demais, a mulher era o seu braço direito no dia a dia da padoca, preocupava-se também com essas mudanças todas que Dona Luzia estava vivendo, ela agora parecia um tanto avoada, não ligava mais para ele, para os negócios, para a casa… Parecia outra pessoa, nunca ficara tanto tempo, ao longo desses quase 20 anos de casamento, sem ralhar com ele.
Deus não lhes dera um filho, é bem verdade, Mas, tocavam suas vidas harmoniosamente, sem grandes problemas. Apesar dos costumeiros arranca-rabos (ela entrava com o “arranca” e ele…, bem deixa pra lá…), eram felizes – e se bastavam.
– Agora, amigo Jeremias, sinto falta até dos esculachos que ela me dava a cada cinco minutos. Eram uma prova de carinho. Me sinto abandonado.
Jeremias se fez de apiedado com a situação. Assumiu ares de isenção e justiça, para dizer que não era do seu feitio se intrometer nessas desavenças entre marido e mulher.
– Diz a sabedoria popular que em briga de casal não se deve…
Seu Manoel não esperou que ele terminasse a frase, indignou-se;
– Ó gajo, foste tu que vieste com essa conversa de curso, de que ela precisava mudar de ares, que andava estressada. Não lembras, não?
– Mané, amigo de longa a data, fiz isso pensando no seu próprio bem. Nas aporrinhações diárias que sofria. Você sofria um bullying lascado. Sabe o que é isso, né? Também como iria prever que a Lu fosse mudartanto assim – e como mudou! Que saúde!
– Lu!!! Lu!!!
Direi apenas que bem mais que vocês e eu, Seu Mané foi atropelado pela aparente intimidade de Jeremias com a sua digníssima senhora.
– Luzia, Dona Luzia, olha o respeito, ó gajo – indignou-se o padeiro-mor diante de um Jeremias apatetado diante do vacilo.
No contexto da incômoda situação, Jeremias só pôde se desculpar e programar uma saída à francesa.
– Aonde vais, homem? Não vai almoçar como de costume?
– Pois é, amigo… Tenho um almoço de negócios.
E lá se foi Jeremias, passo miúdo, apressado, louco para fugir dali.
Não, meus caros e amáveis leitores, o sábio bebum não estava ali naquele momento para registrar a cena. Mas, se estivesse, estou certo que diria algo no gênero.
“Esse cara pode não ser mordomo, mas tem toda pinta de suspeito.”
*amanhã continua