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Jeremias, o interventor (parte 8)

Vida que segue, meus caros.

Não é exagero dizer que nossa história só não teve um final trágico por que, entendamos ou não, Seu Manoel revelou-se um manso – quer dizer, um cara pacífico, minimamente tranquilo, a ponto de preferir, mesmo em desatino, chorar suas magoas num quarto do apart-hotel do que partir para o bate-boca ou algo pior.

Quem nada entendeu foi Dona Luzia, a Luzia ou a Lu, como queiram.

– O que deu no homem?

Andava tão envolvida com as novas conquistas que mal se deu conta de que não era mais quem sempre foi.

Estava em outra enquanto o marido continuava na mesma. A vidinha de sempre. De casa para a padaria, da padaria para casa. Vidinha que ela própria levou por anos e anos a fio, mas que, talvez já não lhe bastasse.

Horrorizou-se com a possibilidade de voltar àquela lida de forno, fogão & Cia.
Passava 14, 16 horas por dia ali. De segunda a segunda. Dia livre só no Natal e no dia 1º de janeiro.

Tanta coisa pra se viver mundo afora.

Não queria se mostrar injusta. Nem relegar a vida que levou.

Teve consciência que estava em uma encruzilhada.

É muito provável que o marido não entendesse a nova fase.

Talvez fosse bom conversar com a professora de neurolinguística. Antes, porém, iria procurar
Jeremias, o Jejê, para que ele lhe buscasse notícias do Manoel.

“Em tantos e tantos de convivência, nunca vi o Mané tão atarantado pra me largar falando sozinha”.

(…)

Antes de se aboletar em um apart-hotel, seu Mané vagou de carro pelas ruas da cidade.

Não tinha um destino certo.

Também não conseguia pensar em nada.

Estava em choque.

Aquela mulher a sua frente, falando, falando, falando…

Chamando um estranho por apelido, Jejê, Jejê…

Perdera o controle.

Aquela mulher não podia ser a sua Luzia.

Talvez não fosse mesmo…

Talvez ele também não fosse mais o mesmo.

(…)

Já devidamente hospedado, Seu Mané derrubou uma garrafa de vinho que havia no frigor bar e apagou.

Dormiu o sono dos inocentes.

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