Vida que segue, meus caros.
Não é exagero dizer que nossa história só não teve um final trágico por que, entendamos ou não, Seu Manoel revelou-se um manso – quer dizer, um cara pacífico, minimamente tranquilo, a ponto de preferir, mesmo em desatino, chorar suas magoas num quarto do apart-hotel do que partir para o bate-boca ou algo pior.
Quem nada entendeu foi Dona Luzia, a Luzia ou a Lu, como queiram.
– O que deu no homem?
Andava tão envolvida com as novas conquistas que mal se deu conta de que não era mais quem sempre foi.
Estava em outra enquanto o marido continuava na mesma. A vidinha de sempre. De casa para a padaria, da padaria para casa. Vidinha que ela própria levou por anos e anos a fio, mas que, talvez já não lhe bastasse.
Horrorizou-se com a possibilidade de voltar àquela lida de forno, fogão & Cia.
Passava 14, 16 horas por dia ali. De segunda a segunda. Dia livre só no Natal e no dia 1º de janeiro.
Tanta coisa pra se viver mundo afora.
Não queria se mostrar injusta. Nem relegar a vida que levou.
Teve consciência que estava em uma encruzilhada.
É muito provável que o marido não entendesse a nova fase.
Talvez fosse bom conversar com a professora de neurolinguística. Antes, porém, iria procurar
Jeremias, o Jejê, para que ele lhe buscasse notícias do Manoel.
“Em tantos e tantos de convivência, nunca vi o Mané tão atarantado pra me largar falando sozinha”.
(…)
Antes de se aboletar em um apart-hotel, seu Mané vagou de carro pelas ruas da cidade.
Não tinha um destino certo.
Também não conseguia pensar em nada.
Estava em choque.
Aquela mulher a sua frente, falando, falando, falando…
Chamando um estranho por apelido, Jejê, Jejê…
Perdera o controle.
Aquela mulher não podia ser a sua Luzia.
Talvez não fosse mesmo…
Talvez ele também não fosse mais o mesmo.
(…)
Já devidamente hospedado, Seu Mané derrubou uma garrafa de vinho que havia no frigor bar e apagou.
Dormiu o sono dos inocentes.