Alguém me chama a atenção para o final do capítulo anterior.
“Dormiu o sono dos inocentes”.
Seu Mané não é tão inocente assim.
O leitor tem lá suas razões. Até porque no mundo de hoje até as crianças brincam de enganar.
De qualquer forma, minha intenção com a frase pretendeu mostrar que o”portuga”, em meio a tamanho imbróglio pessoal e profissional, dormiu pesado, profundo.
Tanto que os funcionários da impávida Flor de Avis estranharam a ausência da chefia assim que chegaram para o expediente do dia.
Nunca acontecera antes.
Por sorte, Jacira possuía uma chave reserva “para qualquer eventualidade” e, ao cabo de 45 minutos, tomou a frente e, para espanto geral, de seus pares e da freguesia, deu ordem ao padeiro que a ajudasse a abrir o estabelecimento e agilizasse a primeira fornada de pão do dia e toda a rotina de atendimento.
Houve quem comentasse:
– Que abusada!
Outros mais maledicentes foram para o inevitável:
– Já está se achando a primeira dama da padaria.
– É questão de tempo, disse outro.
Bem, meus caros cinco ou seis leitores, nem sei ao certo o que lhes dizer.
A vida não pede licença.
A vida não pede desculpa.
Não há nota de rodapé ou anexo que explique, lá na frente, quando começa e quando termina uma história de amor.
Antes que o nó se desate, acho importante registrar que caminhamos (ufa!) para o fim da nossa narrativa sobre as venturas e as desventuras do casal Seu Mané e Luzia.
Peço a vocês, amigos, que me desculpem, mas não darei detalhes, minúcias, meandros sobre as três ou quatro conversas que houve entre eles para acertar os finalmentes.
São conversas difíceis, concordam? Que só interessam aos dois personagens.
O certo é que o quase ex-marido não teve coragem para fazer a clássica pergunta entre os enganados:
– Existe outro homem?
Vai que é ela diz sim, é ou não é? A dor é mais aguda. Melhor fingir que não sabe.
Também Luzia não tocou no assunto que, a bem da verdade, parecia não existir – ao menos até aquele momento.
Ela queria mesmo é cair no mundo e, nessa nova fase, assim como ela virou Lu era compreensível que adotasse o diminutivo carinhoso para todos que estivessem ao redor. Jeremias virou Jejê, a comadre Maria se transformou em Má, o sobrinho Ferdinando em Nando e a professora de neurolinguística (a base ou a desculpa para tantas mudanças) era simplesmente “a prô”.
O único que ficou fora dessa lista – que ironia! – foi o maridão. Ele continuou sendo Manoel. O que, convenhamos, era sintomático. Ele não fazia parte dos planos futuros de Lu.
*amanhã, prometo, o capítulo final. Não percam!