Minha estreia no jornalismo poderia entrar para a história do non sense – se é que o tal tem alguma história.
Entrevistei o então diretor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, José Goldemberg, sobre o assunto do momento, meados dos anos de 70. A Índia anunciara que estava em condições de construir a bomba atômica – e os arautos da Humanidade entraram em pane com medo de que o mundo fosse pelos ares ao simples toque de um botão.
Eu era um esforçado (ma, non troppo) estudante de jornalismo da Escola de Comunicações e Artes – e a sagrada incumbência de esclarecer a todos que nada era tanto assim me foi passada pela professora Cremilda Medina para posterior publicação nos boletins informativos da combativa Agência Universitária de Notícias.
Antes de sair a campo, passei pela supervisão de Paulo Roberto Leandro, uma espécie de editor da AUN, que me deu alguns toques para ‘fechar’ a pauta e dar o encaminhamento devido às perguntas.
Alguém ainda me alertou que deveria dar um enfoque técnico-científico para a reportagem.
Trinta e tantos anos depois, não lembro o que perguntei. Menos ainda o que o notável professor José Goldemberg – que depois virou ministro de Estado – me explicou detalhada e pacientemente.
Cá com meus botões, eu lhes confesso, jamais entendi o dito “enfoque técnico-científico”.
Desconfio que o texto final passou a léguas de distância do dito-cujo.
Lembro apenas que, tamanha era a minha timidez, que não levantei sequer uma vez a cabeça para olhar no olho do entrevistado. Caprichava nas anotações de tudo o que o homem dizia para não escrever uma grande bobagem depois.
Por tantas e tamanhas, meus caros, estou solidário ao presidente Lula nessa sua jornada em Teerã.
Mas, recomendo, por tudo que passei:
Lulinha, Lulinha, esqueça o enfoque técnico-científico e… fique atento!
** FOTO NO BLOG: Como/Itália (arquivo pessoal)