Apresentação
A Associação dos Jornais de Bairro do Estado de São Paulo considera a Tribuna de Santo Amaro (1936) a publicação mais antiga existente no gênero. Há pesquisadores que vêem o embrião dos jornais de bairro em folhetos informativos distribuídos nas primeiras décadas do século 20, em bairros como Lapa, Brás e Água Branca. É o que afirma o livro Jornais de Bairros e Municípios da Grande São Paulo, editado em 1983 pela Emplasa.
A partir dos anos 50, as publicações assumiram características que, com raríssimas mudanças, permaneceram até a década de 90. As chamadas reivindicações sociais passaram a ser o carro-chefe do noticiário. Os jornais de bairro tornaram-se parte da rotina das comunidades. Passaram a interagir de forma decisiva com os leitores, tendo sempre como pressuposto ser o porta-voz de seus mais legítimos anseios e necessidades. Há quem diga que a participação dos jornais de bairro foi fundamental – junto a outros movimentos populares – para o processo de redemocratização do País.
A partir da segunda metade dos anos 90, o jornal de bairro mudou suas características. Abriu mão da função editorial e assumiu a proposta de ser um “grande vendedor de anúncio”. O desequilíbrio entre o jornalístico e o comercial levou o veículo a uma depreciação em termos de credibilidade e a inevitável derrocada advinda da perda deste prestígio. O novo milênio surpreende essa publicação em meio a uma crise de identidade que leva a desastrosas conseqüências no lado financeiro e chega a comprometer a própria sobrevivência.
Este artigo pretende abrir espaço para discussão dessa realidade, além de homenagear alguns dos nomes que fizeram a história dos jornais de bairro em São Paulo.
I.
Um breve relato sobre a história de vida de dois jornalistas, José Jofre Soares e Antônio de Oliveira Marques, com os quais tive o privilégio de conviver em meados dos anos 70 na redação de Gazeta do Ipiranga. Eles foram os precursores da implantação dos jornais de bairro na Capital. Foram principalmente dois sonhadores que sempre estiveram em busca da utopia de uma sociedade mais justa e igualitária.
A inclusão é mais do que merecida, creio eu. Eram autodidatas e trabalharam nas redações dos jornais diários paulistanos. Nos anos 40/50 passaram a militar no Partido Comunista, que implementou na formação de ambos um forte vínculo com as teorias socialistas-marxistas.
No final da década de 50, depois de algumas prisões, não conseguiram mais empregos nas redações convencionais, de tão identificados que estavam com a causa comunista. Fundaram, então, alguns jornais de bairro na periferia de São Paulo e um em São Bernardo – a Gazeta de São Bernardo.
A proposta desses dois quixotes era organizar a sociedade e dar “voz e vez”, como gostava de dizer o Zé Jofre, aos moradores dos núcleos urbanos que começavam a pipocar nos arredores de São Paulo.
Era o início do que, posteriormente, veio a se chamar periferia. Essa proposta reforçou-se ainda mais após o Golpe Militar de 64, que arrasou a sociedade, dizimou partidos políticos, sindicatos, associações de estudantes e todo e qualquer núcleo que pudesse dar vazão aos reclamos sociais.
Marcão queria que as pessoas voltassem a se juntar e a entender que tinham um ideal comum. Que a luta era de todos; primeiramente por melhor qualidade de vida. Achava que o processo de urbanização favorecia a união de todos em torno de uma causa, visto que o perfil do habitante dessas regiões era muito próximo — trabalhador de baixa renda em busca do tão acalentado sonho da casa própria – e que, por faltar quase tudo nesses locais, havia muito para se cobrar do poder público.
Aqui, cabe fazer abrir parênteses: a convivência de ambos não era simples. O cearense Zé Jofre, originariamente gráfico, era mais radical, adepto de caudalosos artigos doutrinadores, repletos de citações. Artigos sistematicamente vetados por Marquês sob a implacável alegação: “Uma lauda todo mundo lê. Duas, só os mais interessados. Três, nem a mãe da gente agüenta…Depois, Zé, é uma bandeira só.”
Jofre era useiro e vezeiro em citações. Defendia-se: “O povo só será livre quando se autoconhecer. Mas, para tanto, vai precisar fazer uma auto-avaliação e reconhecer as verdadeiras condições em que vive”.
Outra citação freqüente de Jofre, vinda dos escritos de Marx: “O primeiro dever da imprensa era minar todas as bases do poder político existentes”.
Marcão concordava com Jofre em tese, mas discordava na prática. Defendia uma organização social sem que houvesse qualquer tipo de tutela ou manipulação, fosse ela qual fosse. Argumentava, com o mesmo autor: “A condição econômica do indivíduo é que determina sua ação social”.
Por ter sido redator-chefe dos jornais do Partidão – Notícias de Hoje, São Paulo Hoje, entre outros – exercia uma ascendência natural. Também obviamente por seus amplos conhecimentos de linguagem jornalística. Queria textos curtos, objetivos, na forma direta, sem qualquer adjetivação. O fundamental é que trouxesse a denuncia de uma questão real: um braço de rua, a falta de calçamento, iluminação pública; de creches, escolas. Enfim, algo que colocasse o Poder Público em xeque. E que, amanhã ou depois, quando conquistado, revelasse concretamente a vitória de toda a comunidade, e assim, entendia, “o povão vai pegar gosto de lutar pelo que acha que é correto”.
Cheguei a Gazeta do Ipiranga em meados de 74/75. Marcão e Jofre estavam fora da Redação – o nome de ambos sequer constava no expediente por questões de segurança. Marcão (a quem eu insistia em chamar de Seo Marques, e inapelavelmente ouvia a sua heresia maior: “Senhor está no céu, cara”) era uma espécie de consultor geral, e o Jofre, que nunca quis ser patrão (“Patrão bom nasce morto”), tinha um salário para fiscalizar a distribuição do jornal.
A ordem para os três repórteres era simples: sair às ruas e ouvir as reclamações da população. Os grandes jornais passavam ao largo desses problemas tão corriqueiros na vida dos periféricos e o centralismo do poder ditatorial preservava-se igualmente distante dessas questões de água, luz, esgoto, escola etc. Quando era uma só pessoa que se queixava, a orientação era que fizesse a reivindicação por meio de uma carta. Caso contrário, se ela achasse mais conveniente e se o problema incomodasse a mais pessoas, então que as reunisse para que se fizesse a reportagem.
Foi com base nessa, digamos, espontaneidade que a região do Ipiranga nos anos 70 reunia nada menos do que 32 sociedades amigos de bairro, além de outros tantos clubes de serviços, centros desportivos, clubes de lojistas, entre outras associações.
Marcão morreu em 78, quando Gazeta do Ipiranga (onde ele e seus colaboradores concentraram todas suas forças) circulava com 20/24 páginas e tinha uma tiragem semanal de 43 mil exemplares.
Um mês antes de seu falecimento, o pessoal da redação foi visitá-lo em sua casa. Ele se confessou um tanto preocupado com os rumos do jornal e com o futuro das SABs. “O jornal transformou-se num grande vendedor de anúncios. Tem um classificado forte que tomam quase 60 por cento de suas páginas. Os interesses comerciais quase sempre vão bater de frente com os editoriais – e nem dá para ser diferente. Hoje, mais de 30 famílias sobrevivem da Gazetinha. Como não abrir espaço para o anunciante?”.
Para as sociedades amigos de bairro, um alerta: “Os líderes comunitários não podem deixar que os políticos profissionais invadam as instituições. Nem devem aceitar empregos no gabinete de quem quer que seja. Aí, passa a valer o interesse pessoal sobre o coletivo”.
Antes que fossemos embora, fez questão de nos mostrar uma folha amarelecida pelo tempo. Tinha a forma de uma primeira página de jornal. Com olhar de criança, contou a mais encantadora peraltice de sua vida. Quando Getúlio Vargas morreu, houve grandes passeatas. Ele e os seus, então, montaram aquela edição-extra de uma única página, subiram nos prédios e espalharam por toda a cidade. A manchete também era única: “Que o povo saia às ruas e tome para si os rumos da Nação”.
Zé Jofre só ficou mais alguns meses no jornal após a morte do amigo. Tempo suficiente para preparar a papelada da aposentadoria. Mudou-se para Bonito, no pantanal mato-grossense, onde um sobrinho lhe daria casa e comida. Zé sempre foi um homem só. Considerava que “a luta não permitia certos luxos. Casar, por exemplo”.
Antes de partir, porém, avisou o pessoal “para dar sumiço nuns trens” que não tinha como levar para a nova casa. Chegando lá ninguém acreditou no que viu: em meio a uma dezena de litros vazios do vinho português Gatãozinho, lá estava um punhado de munição à espera da tão sonhada revolução que nunca veio…
II.
Quando a professora Mônica Perugger Caprino pediu a colaboração dos professores para a Revista da Fajorp, logo me candidatei a fazer um artigo sobre jornais de bairro. Motivos não me faltaram. Trabalhei 28 anos na supracitada redação de Gazeta do Ipiranga, onde pude conviver com os diversos momentos dos jornais de bairro. Desde a consolidação nos anos 70 até a explosão publicitária que viveram na virada da década seguinte. Durante a década de 90, Gazeta do Ipiranga chegou a circular com 52 páginas e o quadro redacional era composto de 16 profissionais, todos jornalistas e/ou estudantes de jornalismo.
Neste momento, os cinco grandes jornais de bairro de São Paulo – Gazeta do Ipiranga, Gazeta de Pinheiros, Gazeta da Zona Norte, Gazeta de Santo Amaro e Gazeta da Zona Norte – estavam aptos a dar o salto de qualidade que os levaria à maioridade como veículos de comunicação jornalística.
Outro motivo me levou a aceitar o desafio do artigo. Foi a possibilidade de registrar o trabalho desses percussores do jornal de bairro em São Paulo, onde o fenômeno se consolidou com importante papel para a organização social. Ao lado de Antônio de Oliveira Marques, José Jofre Soares e Araci Bueno (todos de Gazeta do Ipiranga), outros nomes foram fundamentais. A saber: Olympio Vieira Perrone (presidente da Associação dos Jornais de Bairro de São Paulo), Durval Quintililiano de Oliveira (Gazeta de Pinheiros), Ari Silva (Gazeta da Zona Norte), Oduvaldo Doninni (Grupo Um de Jornais de Bairro), Hirão Tessari (Gazeta da Vila Prudente) e Armando Salles (Gazeta de Santo Amaro). A esses nomes pode-se acrescentar o da professora Katy Nasar (autora da dissertação “A Notícia Mora ao Lado”). Todos – Marques, Jofre e Ari Silva já faleceram. Durval Quintiliano afastou-se da Gazeta de Pinheiros ainda nos anos 80. Hirão virou assessor de imprensa. Olympio, Armando e Araci continuam na ativa – deram uma contribuição inestimável para que o sonho se transformasse em realidade.
Homenagens à parte, é hora de fazer algumas considerações sobre jornais de bairro que entendo ser uma manifestação popular interessante e vital para revigoramento da mídia impressa. Primeiro porque – pude comprovar em todos esses anos – é o leitor quem pauta e fiscaliza o jornal. Estamos falando para o nosso vizinho. E, mais do que em qualquer outra publicação, ele nos cobra uma postura ética, independente e responsável. Se você não publicou determinado assunto por este ou aquele motivo, a cobrança será inevitável no primeiro momento em que estiverem frente a frente. Haja argumentos para convencê-lo. Isso quando não vem pessoalmente à redação ou a ‘bronca’ ou o elogio chegam via telefone e, mais recentemente, via e-mail.
Cabe aqui uma história para ilustrar bem essa situação. Numa das 1.456 sextas-feiras que cheguei à redação de Gazeta do Ipiranga – dia em que o jornal circula –, uma das repórteres me avisou que um senhor havia me procurado por três vezes. Não deixara o nome. Dissera apenas que precisava falar com o RCM – minhas iniciais, com as quais assinei uma coluna por mais de 20 anos; uma mistura de crônica com o que os antigos chamavam de ‘artigo de fundo’. Minutos depois, ouço uma voz embargada ao telefone dizer que o texto que escrevi havia lhe emocionado porque falava de um Ipiranga e de um mundo que não mais existe. Era um senhor de 91 anos que morava sozinho. De alguma forma, sentia-se abandonado pela família, e tinha no jornal de bairro o companheiro que o visitava todas as sextas sem ‘furos’, nem desculpas. Coisa que os filhos faziam sem cerimônia e constrangimentos.
Quanto ao revigoramento da mídia impressa, é notório o impasse que hoje vivem os jornais diários sempre a consagrar as notícias de ontem – ampla e sistematicamente propagadas pelo rádio, a TV e a internet. À medida que a globalização torna-se cada vez mais presente na mídia – e nos faz íntimos de pormenores da prisão de Saddam Hussein em sua cidade natal, Tikrit, no Iraque, e dos altos e baixos da bolsa de Jacarta – abre-se um espaço sensivelmente maior para o desenvolvimento de quem trabalha prioritariamente com a realidade imediata do leitor. Uma realidade que lhe diz respeito e passa a compreender melhor quando a vê transformada em notícia. Ou quando ele mesmo é notícia.
Há hoje nos brasileiros um amplo desejo de participação e organização social. São, na verdade, sementes de fraternidade e vida comunitária que os jornais de bairro ajudaram a cultivar, mesmo em tempos áridos, na certeza de que dias melhores ainda estavam por vir a partir desse fortalecimento da sociedade como um todo.
Ademais, vale sempre lembrar o legado de Dostoievski: “Para ser universal, basta falar de sua aldeia”.
III.
Se até aqui o artigo primou por homenagens e pelo reconhecimento da força dos jornais de bairro, este terceiro item pretende expor a atual situação dessas empresas que, por conta e risco, enfrentam sérios desafios para continuidade das propostas editoriais que lhe deram origem, credibilidade e importância.
Valho-me da oportunidade, aliás, para registrar um dos raros grandes eventos sobre o tema que aconteceu em São Paulo. Foi em dezembro de 1999 – no século passado, portanto. Aconteceu no Senac da Lapa. Constou de uma exposição dos diversos títulos desta sempre esquecida publicação. Chamou-se “Jornal de Bairro: A Outra Grande Imprensa”.
Os organizadores referendaram a escolha do assunto com um dado irrefutável: semanalmente mais de 2 milhões de exemplares de jornais de bairro são distribuídos gratuitamente nos quatro cantos da Capital, inclusive em alguns municípios do Estado. Uma tiragem que, à época, superava a da nossa revista de informação de maior destaque (Veja) e a do principal jornal do País (Folha de S.Paulo) que, aos domingos, sai com pouco mais de 1 milhão de exemplares.
Na abertura da mostra, houve um painel para reflexão sobre a importância dos jornais de bairro como veículos de informação e transformação social. Na platéia, aproximadamente 120 representantes de 70 jornais de bairro da Grande São Paulo. Coube-me a tarefa de falar no quarto bloco sobre o futuro e os desafios da imprensa setorial no próximo milênio.
Logo na abertura fiz questão de esclarecer dois pontos. A saber. Entendia o título da palestra pomposo demais para minhas modestas observações. Segundo: à época, era diretor de redação de Gazeta do Ipiranga (jornal semanal com tiragem de 60 mil exemplares) há 25 anos e, ao longo desse período, pude acompanhar as mudanças que o veículo atravessou – e que, de resto, causavam-me sérias preocupações.
A principal questão que levantei em plenário – e que hoje tomou formas alarmantes — foi a descaracterização editorial e gráfica dos jornais de bairro. Nos anos 60/70 éramos os porta-vozes das legítimas reivindicações populares. Estávamos acima das ideologias, dos partidos políticos e, pasmem, corajosamente do interesse do anunciante. Levávamos às autoridades as reivindicações dos moradores da periferia que não tinham condições básicas de vida: luz, calçamento, asfalto, esgoto, água, escola para os filhos. Trabalhávamos para uma população que não tinha a quem recorrer. Os grandes jornais não davam espaço para esse tipo de notícia e as autoridades estavam hermeticamente distantes dos lamentos populares (vale lembrar que vivíamos num período ditatorial).
Já no final dos anos 70 e começo dos 80, a distensão democrática ganhou espaço em Gazeta do Ipiranga e em muitos outros veículos que incentivaram a criação de clubes de serviço, associações de bairro, entidades representativas de grupos sociais, centros desportivos e culturais. Dessa forma, a organização social ganhou núcleos bem definidos (uma vez que os partidos políticos e os sindicatos existiam só para “legitimar” a imagem de democracia) e o gosto pela cidadania. Quando eclodiu o movimento pelas Diretas-Já, em 84, a sociedade já possuía canais aglutinadores que reverberavam a necessidade da mudança.
Os anos 80 e o início dos 90 registraram um grande avanço dos jornais de bairro enquanto veículo publicitário. Os bairros ganharam vida própria, com comércio atuante e cadeia de empresas prestadora de serviços de porte considerável. E gradativamente passaram a priorizar o comercial ao editorial.
Com algumas de suas bandeiras praticamente resolvidas (o jornal de bairro deixou de falar do buraco da rua, que continua a existir, mas não é mais tão notícia e a democratização é um fato consumado) e insuflados pelos bons ventos do Real que aqueceram a Economia (Gazeta do Ipiranga chegou a tirar edições de 48 páginas, com 70 por cento do espaço dedicado aos anunciantes), os jornais de bairro passaram a ser prestadores de serviço e um brilhante vendedor, especialmente para anúncios varejistas. Criaram-se, então, seções absolutamente dispensáveis como Informática, Turismo, Automóveis, Feminina, Guia do Consumidor, entre outras – sempre priorizando que pode e quer anunciar.
A própria primeira página começou a abrigar mensagens comerciais e chamadas para os melhores anunciantes – e o editorial perdendo terreno. Hoje, os anúncios chegam a tomar 80 por cento da primeira página de um grande número de jornais de bairro de São Paulo. É a capitulação ao comercial.
Até porque esse processo de descaracterização também chega às entidades que, salvo raríssimas exceções, passam a ter propostas político-partidárias a reger seus destinos. Quando não é o próprio presidente ou diretor da SAB que é candidato a vereador, ele está trabalhando, com salário e tudo mais, para um político profissional.
As grandes questões, que mexem com a opinião pública, fogem da alçada meramente regional. É a causa ambientalista, o recrudescimento da violência, a corrupção desenfreada, o trabalho das ONGs – e isso também é tema de outros jornais que o explora à exaustão. Também não interessa à comunidade como um todo, só a alguns segmentos. Mas, mesmo assim, sem qualquer comoção maior.
Com o refluxo da Economia, especialmente depois da desvalorização do Real, a imprensa setorial vê atingido justamente o maior potencial de anunciantes: a pequena e média empresa. Sem fôlego para anunciar como faziam anteriormente, sobrevivem às duras penas; quando não fecham as portas, não conseguem pagar o preço de tabela ou tornam-se inadimplentes.
Eis a encruzilhada: o jornal de bairro não pode perder a estrutura profissional que adotou, mas está sem um projeto editorial qualificado (e identificado com os leitores, que só o procuram agora como prestador de serviços) e a crise esfacela o reduto de anunciantes.
De quebra, perde-se muito do sentido comunitário que davam vida a muitos bairros da Capital. Agora, as compras são feitas em shoppings e ninguém se importa em cortar a cidade – ou mesmo, sair dela – para se divertir.
.Como enfrentar o impasse? Com criatividade, sim. Mas, principalmente com uma nova estrutura funcional que busque a profissionalização – quase todos os jornais de bairro são empresas familiares de horizontes bastante tímidos. Querem a sobrevivência e algum prestígio regional — e a responsabilidade social.
Está lançado o desafio.
Um desafio que passa pelo interesse das novas gerações de jornalistas. E aí a universidade vai desenvolver um papel preponderante. Deverá fornecer ao estudante condições de entender que se pode fazer o melhor jornalismo tanto na chamada grande imprensa como em qualquer outro veículo de informação. Por que não um jornal de bairro?
Recentemente cinco formandos de jornalismo (Carolina Moreira Lobo, Cláudio Daniel de Lima Longo, Gabriel Batista de Carvalho, João Paulo Agostini Tavares Soares e Mariana Sarubby Gonzalez) da Universidade Metodista de São Paulo transformaram em realidade o Trabalho de Conclusão de Curso que apresentaram em fins de 2002. Com orientação dos professores Júlio Veríssimo e José Reis Filho, idealizaram um jornal semanal para a cidade de São Caetano do Sul, no ABC paulista. O São Caetano Agora virou realidade em julho deste ano, e até aqui vem lutando firmemente para conquistar seu espaço junto ao público ledor. Na edição número 1, fui convidado a escrever um breve artigo. Não tive dúvidas em lhes contar, com a brevidade que o espaço de um jornal tablóide me reservou, a saga de Marcão e Zé Jofre. Ao final, acrescentei que os cinco eram herdeiros do sonho daqueles bravos senhores. Sonho que, insisto, apesar de todos os pesares, ainda não acabou.
* Revista de Estudos de Jornalismo & Relações Públicas da Universidade Metodista de São Paulo. Ano 1. Número 2