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Jornalismo autoral

A revista Negócios da Comunicação está desenvolvendo uma reportagem a respeito do chamado jornalismo autoral – e me encaminha uma série de questões para, via email, saber o que penso sobre o tema. Fico honrado pela escolha. O curso que coordeno, Jornalismo, na Universidade Metodista de São Paulo é um dos mais tradicionais do país. Daí, penso eu, o interesse pela minha opinião.

Destaco duas perguntas para nortear nossa conversa:

1 – A cultura autoral (com o autor em destaque) vem de um processo natural dentro do jornalismo ou é de fato uma demanda das novas mídias?

2 – Os estudantes de jornalismo já chegam com essa visão sobre o mundo digital? Estamos às vésperas de uma geração de jornalistas personalidades?

(…)

Vamos lá…

O jornalismo sempre, desde os primórdios, teve o aspecto autoral bastante evidenciado. É da natureza da profissão. Não são robôs que escrevem as reportagens.

(Ainda não…)

Dá para citar dezenas e dezenas de nomes que tocavam o seu texto e, de forma bem enfática, fidelizavam o público-leitor. O cronista Rubem Braga é talvez o melhor exemplo. Estivesse em que jornal estivesse , o leitor procurava sua crônica diária. Como ele, tantos outros…

Até meados de 1980, o jornalismo viveu o chamado período das grandes reportagens e do jornalista com o protagonismo da cena.

A partir de então, se consolida a chamada Era das Mídias. O jornalismo impresso deixa de ser o único a mediar as tais demandas sociais – e o rádio e a TV. com o avanço das novas tecnologias e da portabilidade, ganham maior dimensão no dia a dia informativo das pessoas.

É um contexto complexo em que há toda uma movimentação política, social e econômica (inclusive, e principalmente) que faz com que o jornalismo impresso precise se adequar para não perder espaço (inclusive, e principalmente) como produto de mercado.

Uma data emblemática: 1984 e o Projeto Folha que, digamos, consolida a ditadura dos manuais de redação. Que já grassavam aqui e ali, mas não tentavam enquadrar o estilo deste ou daquele repórter. Nesse momento, como diria Chico Buarque numa canção que criticava as multigravadoras, passa valer mais a voz do dono do que a opinião do dono da voz…

A cultura autoral resistiu – e, quando não conseguiu uma sobrevida nas redações, buscou outros caminhos para encontrar o leitor. Dois deles são notáveis: o livrorreportagem ed o documentário áudio-visual.

A bem da verdade, o grande desafio do jornalista desde então é inventar o próprio espaço.

É um processo lento – por vezes, imperceptível – mas que vai se consolidando sem retorno.

Ganha contornos mais nítidos com as plataformas digitais que oferecem a possibilidade aos novos jornalistas ser patrão de deles mesmos e, enfim, ter direito ao tão sonhado livre arbítrio.

Ufa!!!

Na contramão dessa tendência, as redações ficam cada vez mais enxutas. Inseguras e sem perspectivas de realização profissional.

(Raros escapam a sina de se manterem na ativa na Redação, sem pertencer ao eixo duro do Poder (os que cercam os donos ou os filhos dos donos da empresa)).

Há um livro belíssimo do Mino Carta sobre a trajetória do jornalista brasileiro que se imagina da turma da realeza da família que detém o jornal.

Chama-se O Brasil, e por motivos óbvios não ganhou a divulgação que merecia quando foi lançado em 2012.

Outro ponto favorável ao jornalismo autoral é que as novas levas de profissionais já desenvolvem aspectos de empreendedorismo que lhes possibilitam pensar a carreira de forma mais ampla e, pessoalmente, mais plena.

Aliás, aqui na Metodista, este aspecto (o empreendedorismo, gerenciamento de carreira etc) é um dos pilares do novo projeto pedagógico, em andamento desde 2015.

Quanto aos estudantes, hoje eles já chegam impregnados pelo mundo digital.

É o admirável mundo novo que se projeta… No qual, jornalistas ou não, todos seremos protagonistas.

*Escrevi demais. Permitam-me folgar neste domingo. Por motivo mais do que óbvio: é meu aniversário.

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