Fiquei orgulhoso pra caramba quando recebi a carteira de jornalista da Associação dos Cronistas Esportivas do Estado de São Paulo. Entendi que logo, logo, seria destacado para cobrir um jogo, ao vivo e em cores, no estádio.
Era tudo o que sonha um apaixonado por futebol e jornalista.
Fiquei empolgado.
Mas, antes que alardeasse minha conquista aos quatro cantos da velha redação, ouço a voz professoral do grande Tonico Marques me avisar:
– O burguesinho alienado (o chefe gostava de me provocar, recém-saído da USP, em pleno período ditatorial, era o fim ser chamado de ‘burguesinho alienado’), seguinte: você vai cobrir o jogo de domingo no estádio, mas guarde essa: lugar de torcedor é na arquibancada, leve só o jornalista para a tribuna de imprensa.
Ouviu?
Fiz alguns jogos no Pacaembu e no Morumbi, sem maiores problemas. Via ao meu lado alguns nomes do jornalismo esportivo que me eram caros: Solange Biba, Álvaro Paes Leme, entre outros menos cotados. Todos na maior postura…
Até aquele bendito domingo à tarde (17 de junho de 1979) quando Palmeiras e São Paulo se enfrentaram no Morumbi, lotadaço – desconfio que havia mais de 100 mil pessoas. Era o jogo decisivo pelas quartas de finais do Campeonato Paulista e o empate credenciaria o meu amado Palestra para a finalíssima, diante do Santos (que havia eliminado o Guarani).
A tribuna de Imprensa do Morumbi estava lotada – e todos na maior seriedade. Eu, mais do que compenetrado, segurava a onda, como podia, para não dar bandeira.
O jogo terminou zero a zero.
O Palmeiras na bica para mais uma conquista. Os anos 70 foram gloriosos para ao alviverde.
Entre os jornalistas um silêncio sepulcral. E eu, ali, só me remoendo para não entoar com a torcida o tradicional refrão:
“Ai, ai, ai,ai, tá chegando hora.
O dia já vem raiando meu bem
Eu tenho que ir embora”.
Lugar de torcedor é na arquibancada – me ensinou o inesquecível Marcão.
Ledo engano, meus caros.
Aos 13 minutos do segundo tempo da prorrogação, Serginho
Chulapa escapou da vigilância implacável de Marinho Peres e Beto Fuscão e, diante de um Pires apatetado, cabeçou firme longe do alcance do goleiro Gilmar.
O estádio explodiu num grito de gol.
E lhes confesso, meus amados e fiéis leitores: a tribuna de imprensa também.
O que havia de jornalista/torcedor do São Paulo ali não era fácil
Gritaram gol, se abraçaram, festejaram. Chegaram até a improvisar um pequeno cordão ali.
Saí atordoado dali por dois motivos: a derrota do Palmeiras e decepção com os coleguinhas.
Além do que, o Marcão nunca se enganara. Porque viera com aquela conversinha quando me passou a credencial da Aceesp. No dia seguinte, quando lhe contei o ocorrido, não deixou por menos assumiu, de novo, o tom professoral e disse:
– Eu lhe propus uma situação ideal. Mas, vamos lá, outra lição: a tal imparcialidade jornalística é uma utopia. A gente corre atrás, mas francamente ela não existe.