Foto: Jovem Guarda/TV Record/Acervo MIS
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Dou-lhes um breve contexto.
Década de 60.
Nem tudo era festa pelo mundo e por aqui.
Há uma geração entre os 15 e 20 anos que não viveu as tribulações da tragédia planetária que foi a Segunda Grande Guerra. Talvez por isso mostra-se, via de regra mais inquieta em busca de caminhos próprios e ávida por se despregar do etigma de ser ‘um mini adulto’.
Revela-se assim na vida, arte e, vá lá!, nos amores.
Eclode o que genericamente se denominou ‘o conflito de gerações’.
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Lembro agora o professor do curso secundário, o professor Cassimiro, a nos dizer à época:
“O jovem de hoje não sabe o que quer, mas sabe exatamente o que não quer. Faço gosto que procure e encontre”.
Mesmo entrado nos 60, o prof. Cassimiro era dos nossos.
Chamáva-nos de ‘rebeldes sem causa’.
Diria que proclamávamos, talvez ingenuamente, a ruptura com os tais padrões sociais.
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Diria mais.
Vivíamos um lusco-fusco de situações. Um período marcado por inquietações políticas (a Guerra Fria, os golpes militares na América Latina, regimes ditatoriais despontando aqui e ali, inclusive no Brasil), culturais (especialmente na música popular, com o aparecimento dos Beatles; mas não só) e sociais (o feminismo, a luta antirrascista, as causas identitárias, os movimentos populares, as manifestações pelos direitos dos trabalhadores, a pauta da reforma agrária entre outras tantas propostas libertárias).
Especificamente no Brasil, a renúncia do então presidente Jânio Quadros (agosto de 1961) empurrou o país para uma grande convulsão social que deu origem ao malfadado Golpe de março/abril de 1964 e uma trágica ditadura que durou 21 anos.
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Deixemos o sociologuês de lado.
Enquanto isso…
No âmbito da comunicação social, via-se a lenta – mas definitiva – sucessão da influência do rádio para a TV como instrumento de alcance nacional junto à sociedade.
A TV Record, intuitivamente ou não, entendeu bem o fenômeno e o momento. Desenvolveu, com êxito, toda uma grade de programas com base na música popular. Implantou a chamada Era dos Festivais e, a partir daí, uma gama de musicais para todos os gostos.
A saber:
O Fino da Bossa (comandado por Elis Regina e Jair Rodrigues, voltado pela MPB), o Corte Rayol Show (para os adeptos da música romântica, com Agnaldo Rayol e Renato Corte Leal), Show em Symonal (para os descolados da turma da pilantragem), Bossaudade (com Elizeth Cardoso e Ciro Monteiro e os nomes da Velha Guarda), Astros dos Discos (a parada de sucessos semanal), Esta Noite Se Improsiva ( um quiz musical comandado por Blota Júnior e juntando renomados artistas do fabuloso cast da Record) e a nossa Jovem Guarda que, sem dúvida, era o de maior popularidade entre todas as atrações.
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A Record passou a ser incontestável líder de audiência.
A Jovem Guarda era o carro-chefe.
Pois então…
Toda fama, queiramos ou não, atrai o reverso da glória.
Havia setores que faziam severas críticas ao ‘rufiões da Jovem Guarda’.
Diziam que os caras eram alienados e não estavam nem aí para a situação política do País (como disse, vivíamos um regime ditatorial). Que importavam usos, costumes e guitarras de culturas alienígenas e não passavam de um bando de cabeludos e desordeiros, trajando roupas extravagantes e vulgares.
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Pegavam pesado.
Quem ouvia MPB – e muitos dos próprios artistas – não suportava a Jovem Guarda e sua música “de baixíssima qualidade”.
Para os filhos da bossa-nova, os garotões cabeludos e as moçoilas de minissaia formavam um bando de suburbanos e chinfrins.
Era assim…
Até que um belo dia Maria Bethânia disse para Caetano “ouvir aquela canção de Roberto” – e veio o Festival de 67, “Alegria, Alegria”, “Domingo no Parque”, o Tropicalismo e tudo mudou…
A Jovem Guarda virou cult.
Continuou a ser “uma festa de arromba” e a influenciar a febre do rock tupiniquim nos anos 80 e outras tantas ondas musicais que se sucederam.
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Numa das vezes que entrevistei Erasmo Carlos, ele me disse, sem mágoas, que os críticos afirmavam, com todas as letras, que o sucesso da Jovem Guarda não duraria seis meses.
Erraram feio.
Cá estamos a reverenciar os 60 anos do movimento.
“Parece que foi ontem, diz o amigo Escova, tão jovemguardiano como eu.
Sigamos…
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TRILHA SONORA
Com a irreverência típica dos jovens do século 21, o Skank cantou…
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O que você acha?