Foto: reprodução da capa do disco O Bidú, lançado em 1965, pelo selo Artistas Unidos.
…
Já lhes disse, em texto anterior desta mesma série, que sou um jovemguardiano convicto, mas algo impuro.
Por outra, convém esclarecer ao distinto público leitor, minha origem e procedência urbana e suburbana. Sou do bairro operário do Cambuci e, sem nenhum equívoco, que, antes mesmo de Roberto, Erasmo & Cia, minha primeira – e principal – influência musical e, por que não dizer?, existencial vem das peripécias sonoras e rítmicas de um carioca, nascido no bairro do Rio Comprido, de nome Jorge Lima de Menezes que, lá no início dos anos 60, quando eu conheci autor e obra, atendia pelo nome simplificado de Jorge Ben e, desde o final dos anos 80 por algum motivo cabalístico ou empresarial (ou os dois!) adotou o nome de Jorge Ben Jor.
Isto posto, dou fé e assumo total minha formação benjorniana.
…
Uma pitadinha histórica.
Ben Jor integrou a turma da Tijuca. Conheceu Erasmo, Roberto e Tim Maia. Ganhou o apelido de Babulina por uma ou outra tentativa de incursão roqueira. Mas, sempre ficou criativamente na dele. Foi assim, registre-se, que surpreendeu a todos, com os primeiros sucessos e retumbantes “Mas Que Nada”, “Chove Chuva” e “Por Causa de Você, Menina”.
Um enigma originalíssimo.
Como definir a música do Ben?
Não era samba. Não era bossa-nova. Não era rock. E, ao mesmo tempo, poderia ser tudo isso, junto e misturado, embalado numa brasilidade e pretitude incontestáveis.
Oba, Oba. Oba.
África-Brasil.
Salve Jorge!
…
Também já lhes contei que, nas quebradas da década de 60, a turma da MPB não digeria, com suavidade, o sucesso do pessoal da Jovem Guarda. Para os tais, era uma música alienígena às coisas pátrias e cousa e lousa e mariposa.. Houve até uma passeata, liderada por Elis Regina, em protesto contra a invasão das guitarras elétricas.
Dá para acreditar?
Pois é, tem vez que nem eu acredito. Mas, aconteceu e virou manchete em jornais e revistas que ainda existiam naqueles idos e havidos tempos.
…
Ben Jor era contratado da TV Record e se apresentava no programa O Fino da Bossa, de Elis Regina. Na tarde de um certo domingo, visitou os amigos Erasmo e Roberto e aproveitou para dar uma ‘canja’ na Jovem Guarda.
Foi o suficiente. Dizem a turma da MPB, especialmente Elis não gostou. Ou lá ou cá? – perguntou. Sem problemas para Ben que se bandeou para o programa Jovem Guarda, e se sentiu entre os iguais.
…
A bem da verdade, o autor de “País Tropical” nunca foi afeito a rótulos ou que segregassem sua música aqui, ali e acolá. Depois da Jovem Guarda, passou pelo Tropicalismo, entrou os anos 70 a fundear as bases da soul-music nativa com o disco Negro é Lindo, viajou no esoterismo no épico álbum A Tábua de Esmeralda, jogou-se na word-music lá pelo fim da década e por aí foi e tem sido a cooptar e sacolejar gerações e gerações até os dias atuais.
Nunca deixou de ser Ben Jor.
…
Uma curiosidade. Antes mesmo do programa Jovem Guarda existir, Ben já flertava com algo híbrido entre o samba, o rock e a soul music. No álbum de 1964, intitulado Big Ben, ele gravou uma espécie de continuação de um sucesso de Roberto Carlos chamado “História de Um Homem Mau” – na verdade, a versão da americana “OI’ Man Mouse”.
A partir dela, Ben fez a bem-humorada e cinematográfica “O Homem Que Matou o Homem Que Matou o Mau”.
Detalhe para o final-feliz, típico das canções de Jorge Ben Jor desde sempre.
Confiram as duas músicas!
…
…
…
O que você acha?