Foto: Ronnie Von e Roberto Carlos/ Divulgação
…
Meu bom e saudoso amigo José do Nascimento (Nasci completaria 90 anos) trabalhou como produtor na Record no período que a emissora de TV viveu o auge de audiência e popularidade.
Em nossas conversas distraídas a lembrar a fase áurea da Record, ele recordava, em tom de brincadeira, que o programa Jovem Guarda era conhecido nos bastidores da emissora como “a Arca de Noé”.
Nasci explicava que os jovens ídolos se tratavam com o chamamento de “bicho”. Roberto, inclusive e principalmente.
“Era bicho pra cá, bicho pra lá. Oi, bicho. Fala, bicho… Era muito bicho. Bicho que não acabava mais. Os gozadores de plantão – e sempre os há – não tiveram dúvida. Apelidaram o programa de Arca de Noé. Respeitosamente, claro.”
…
Não posso lhes afiançar que a história seja 100 por cento verídica. O Nasci, por conta e risco, era um criativo contador de causos vividos e imaginados. O que sei – e lhes dou fé – é que o cast de artistas que integravam o programa capitaneado por Roberto, Erasmo e Wanderléa era enorme – e cada vez aumentava mais.
Todo o jovem cantor, toda jovem cantora, fossem quem fossem, viessem de onde viessem, queriam participar do programa para alavancar a própria carreira. Bastava uma aparição no palco da Jovem Guarda para as gravadoras ficarem atentas e pipocarem convites para shows e eventos em todo o Brasil.
Dá para dizer que nem todos do farto elenco cabiam nas duas horas do programa. Começava às 16 horas e terminava por volta das 18 horas, quando entrava o seriado “Perdidos no Espaço”.
…
Vai daí que não tardou – e logo começaram a surgir os sucedâneos da Jovem Guarda.
De olho grande no sucesso de Roberto, Erasmo e Wandérlea, a concorrente TV Excelsior criou uma Jovem Guarda pra chamar de sua. Também nas tardes de domingo lançou ” O Bom” e trouxe para comandá-lo Eduardo Araújo, a jovem e promissora cantora Silvinha (1951/2008) e ninguém menos que o imprevisível Tim Maia (1942/1998). Que eu me lembre Wanderley Cardoso, Cláudio Fontana, Vanusa (1947/2020), entre outros vieram a reboque para a nova empreitada.
Outro a navegar nas águas da Jovem Guarda foi bolação da própria TV Record: “O Pequeno Mundo de Ronnie Von”. O programa era exibido no fim das tardes de sábado, com “o príncipe” Ronnie Von à frente, Rosemary, a irriquieta banda “Os Mutantes” e outros nomes também pinçados do segundo escalão do time da Jovem Guarda. “Foi uma jogada de mestre” – dizia-me o Nasci. “Abriu-se assim uma vitrine para os novos talentos e também se acomodou um bom número de empresas que estavam na fila de espera para patrocinar a Jovem Guarda”.
…
Meus caros e preclaros,
… eu lhes digo: nem mesmo o Sílvio Santos, ele mesmo, deixou de surfar nas águas do iê-iê-iê.
Criou um quadro em seu programa que se chamou “Os Galãs Cantam e Dançam aos Domingos”, reunindo cantores com alguma passagem pela Jovem Guarda ou mesmo desconhecidos do grande público. Arturzinho, Franco, Luiz Fabiano estavam entre os mais renomados.
…
Todas essas iniciativas – e alguma outra que me escapou à memória – tiveram lá seu brilhareco. Deram endosso à música jovem e, não raras vezes, revelaram nomes que se formataram entre os maiorais da MPB como os eternos Rita Lee (que fazia parte de Os Mutantes) e Tim Maia. Mesmo o Fábio Júnior, ainda meninão de tudo, comandou, por algum tempo, na TV Bandeirantes, a versão infantil da turma do Roberto. O programa se chamou “Jovem Guarda Mirim”.
Tiveram lá sua importância, eu diria. Mas, não abalaram o reinado de Roberto Carlos, primeiro e único.
Ainda hoje dá para dizer que é o nome mais cultuado da nossa música popular.
Hoje, apenas “O Rei”.
…
…
…
O que você acha?