Somos o que somos – e ponto e basta!
Nem sempre, nem sempre.
Lembrou-se do amigo que lhe dizia, sempre com voz professoral:
— Mais do que nossas opções, somos mesmo as consequências dos nossos equívocos.
Tantos e tamanhos ao longo da vida que só mais tarde, pela curva dos 50, temos condições de nos dar conta dos erros e vacilos.
Ele, por exemplo.
Curtia a mais cava solidão.
Apartamento às escuras, debruçou-se no peitoril da varanda e contemplou, em infinita tristeza, as luzes esmaecidas da cidade, o ir-e-vir de esparsos veículos e imaginou a linha do horizonte perdida no breu da noite.
Para lá, voavam seus pensamentos. As lembranças, e um gosto de arrependimento.
O olhar de Bianca quando encontrou o seu, pela primeira vez.
O sorriso inesquecível de Luana quando lhe confessou tudo o que sentia.
As carícias de Paulinha e a promessa de envelhecerem juntos – e amando-se cada vez mais.
Os nomes, os sentimentos, as imagens se sucediam, atropelavam-se na tela da memória.
Queimei todos os meus filmes, disse de si para si. Quase se perdoando pela covardia de não assumir como verdadeiras as paixões dilacerantes que, assim como um dia chegaram, em outro se foram. Sem que ele se desse conta do quanto perdia.
Seria para sempre apenas um cara só.
Saberia lidar bem com seus equívocos, suas perdas.
Nunca pediu mais do que teve. Nunca teve mais do que o necessário.
Só uma dor lancinante, agora, lhe perturbava o corpo e a alma.
Como entender?
Como explicar?
Como explicar outra vez o Corinthians fora da Libertadores…
Aproveitou a noite, o silêncio, a solidão, as lembranças e mais esta decepção – e chorou.
Chorou lágrimas de esguicho.