Fotos: Joédson Alves/Agência Brasil
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Minhas lembranças e eu.
Eu e minhas lembranças.
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Para explicar o hoje que custo a entender – e mesmo acreditar -, me é inevitável recorrer a fatos do passado e assim busco enxergar a tal luz no fim do túnel que não seja ‘a locomotiva descontrolada vindo em nossa direção’, como diz a piada antiga].
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Recordo que, no início dos anos 80, fui de bicão a um encontro da comunidade argentina em São Paulo, organizado pela Folha de S.Paulo.
O auditório no prédio da rua Barão de Limeira estava apinhado de gente.
Houve muitos oradores em inflamados discursos em defesa do estado de Direito e o fim da ditadura militar.
A bem da verdade, os hermanos encaminhavam céleres o fim daquele período sombrio entre 1976 e 1983, marcado pelo descalabro dos militares no Poder e a trágica desventura da Guerra das Malvinas.
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Na interação com palestrantes e plateia, surpreendeu-me o engajamento de todos.
Falavam com propriedade e amplo conhecimento do momento que viviam como nação.
Discursavam conscientes dos percalços vividos e dos desafios que tinham pela frente.
Saí de lá com a sincera impressão de que estavam algumas jardas à nossa frente.
Por aqui, as manifestações das Diretas ainda engatinhavam timidamente.
Temos muito o que aprender com eles, pensei.
Juntos, seremos mais fortes.
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Entendo que a semana não é lá das mais adequadas.
Falar da Argentina é lembrar o fiasco do Maracanã. Fomos mal em campo e péssimos nas arquibancadas.
Mas, como diz aquele, nem tudo é futebol.
A vida se dá plena e incontrolável além das quatro linhas.
É aí que mora o mundo real.
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Pois então…
Neste imprevisível ‘mundo real’, ao longo de todos esses anos, lhes digo que, em muitas ocasiões que nós, os brazucas, vacilávamos no resguardo da justiça social, recorri à indignação de hermanos como modelo de luta em prol do bem comum
Até um Papa eles fizeram!
Francisco, O Papa dos Pobres.
Tinha para mim que aprenderam a lição.
Nunca mais incorreriam, ao menos eles, em apostar no retrocesso.
Nunca diga nunca, não é assim que dizem?
Verdade.
Nunca é tempo demais.
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Ainda estou incrédulo com o resultado das eleições presidenciais de domingo passado.
Os campeões do mundo no futebol pisaram na bola nas urnas.
Cadê toda aquela indignação pelo fim do autorismo e resgate dos princípios democráticos?
Será que não se deram conta do escabroso exemplo brasileiro entre os toscos anos de 2018 a 2022?
O risco que nossa democracia correu e ainda corre.ao apostar no ódio e no bizarro?
O estrago foi – e é – grande.
Não se recupera em décadas e décadas.
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Enfim…
Cada qual com sua sina.
Bicão e bicudo que sou, digo apenas que lamento… l
Lamento muito também por ti, Argentina.
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O que você acha?