O Homem de Lata me procurou hoje.
Está inconformado com a notícia
que leu num renomado site. Atropelou
a lógica e, antes mesmo de esclarecer
o que era, foi direto para a acusação:
— Isso é coisa daquele doutorzinho
de araque que não tem o que fazer,
além de ficar imitando o Faustão…
O nosso amável robô se referiu
ao Dr. Maluco Beleza que lhe implantou
um coração humano – e, depois disso,
Latinha (como aquela bandidinha o chamava)
não se habituou mais a viver sussa,
sussa, no tal País das Maravilhas.
Coisas da ciência moderna,
tentei lhe explicar. Mas, em vão.
Latinha sacou da bolsa de cobre,
que trazia transpassada ao corpo
de aço inoxidável, uma cópia
da notícia que a amiga ‘Impressora’
lhe ofereceu gratuitamente e
me entregou, não sem
antes fazer um comentário:
— A Xeroquinha é uma graça.
Mas, leia, leia…
Confesso que pressenti intenções
inconfessáveis no comentário. Mas,
segui suas instruções. Leiam o que li:
23/02/2007 – 17h57
Projeto europeu desenvolve
robôs com emoções
da BBC, em Londres
Cientistas em seis países da Europa estão
unindo esforços para desenvolver os primeiros
robôs com a habilidade de interagir
emocionalmente com os humanos.
O projeto, chamado Feelix Growing,
envolve 25 profissionais, entre especialistas
em robótica, psicólogos e neurocientistas,
e prevê um investimento de 2,3 milhões de euros
(cerca de R$ 6,3 milhões) em três anos.
De acordo com a coordenadora do Feelix Growing,
Lola Canamero, o objetivo é criar robôs
que "aprendam com os humanos e respondam
de uma maneira apropriada dos
pontos de vista emocional e social".
Para isso, os robôs que estão sendo
desenvolvidos receberam sensores especiais,
que permitem perceber
a reação dos humanos a eles.
II.
Aí, minha “Santinha dos Parafusos Soltos”,
esses personagens andam mesmo abusados.
Cada vez mais soltos e independentes.
Vocês viram o que o Dinoel disse sobre
a nova velha canção que o Chico Buarque gravou
no post de sábado? Leram o comentário lindo
que a Garota de Cabelos Vermelhos deixou
sobre o post de ontem? Então…
Hoje, me aparecem Latinha
e toda sua indignação. E, vejam, ele não
dava as caras – no seu caso, uma pesada
máscara de ferro – por aqui desde 25 de outubro,
quando escrevi a crônica Homem de Lata,
que está na seção PARANGOLÉS…
III.
Vale à pena dar uma espiadinha
naquele texto para entender
o clamor do nosso amável robô.
— O que esse pessoal pretende?
Acabar com toda uma geração robótica.
Se vocês que são vocês, humanos, nada
entendem do que chamam eufemisticamente
de a arte de amar porque querem nos
meter nesse rolo? Não precisamos disso.
Não fomos feitos para isso. Temos tarefas
mais dignas e importantes a cumprir.
Somos frios, objetivos, práticos.
IV.
Por favor, não me entendam mal.
Sou francamente favorável aos avanços
científicos, tecnológicos, medicinais,
espaciais, lero-lero, reco-reco
e o escambau, mas reconheço:
o Homem de Lata tem razão…
Olhem ao redor, meus cinco queridos
e fiéis leitores. O mundo anda tão estranho.
Muito estranho. Estranho mesmo.
Para que provocar mais confusão –
e estranheza?
Diria que falta um síndico,
com a autoridade de um Tim Maia,
para por a casa em ordem…
Agora, e digam vocês, o que significa
“interagir emocionalmente com os
humanos”? É ruim, hein! Se fosse o
amável Latinha também ficaria ressabiado
e, não sei, não, se não lideraria
uma rebelião das máquinas…
V.
Em todo caso, prometo, vou reler a crônica
que escrevi em outubro e me informar
melhor sobre a notícia da BBC…
Mas, garanto, da próxima vez
que o encontrar, vou lhe perguntar
sobre o paradeiro de Safira,
a menina do coração de pedra,
aquela que fez o Homem de Lata
derramar tocantes lágrimas de óleo diesel…