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Leite Derramado

Não terminei de ler (parei na pág.107), mas gostei (e muito) do novo romance de Chico Buarque de Holanda, Leite Derramado, lançado há coisa de duas semanas pela Companhia das Letras.

Trata-se do quarto romance de Chico – Estorvo, Benjamim e Budapeste; quinto, se contarmos Fazenda Modelo que, a bem da verdade, não é propriamente um romance – e nos revela um autor raro, pleno na arte de descrever as divagações de um personagem alucinado e alucinante.

O aristocrata Eulálio d’Assumpção é autor-narrador em estilo, diria, machadiano. Do leito de um hospital público relata suas memórias em ritmo frenético e delirantemente encantado. Triste, mas encantado.

Em tom envolvente, o moribundo mescla lembranças, frustrações, desejos.

Falar do texto de Chico é dispensável. Seguro e conciso, o autor dá vida e engenho a uma série de personagens exasperados e contraditórios, como Eulálio. Todos sobrevivem como podem à sombra das convenções e dos valores sociais.

Tenho especial predileção por tais narrativas. Talvez por isso goste tanto dos livros de Chico, que trazem como protagonistas esses senhores lunáticos e desacorçoados. Eulálio, aliás, me parece a mais fina flor do pântano, onde floresce a tal precariedade da condição humana.

Não sei se é o entusiasmo da primeira leitura, mas Leite Derramado revela um escritor do mesmo nível e qualidade que Chico Buarque sempre foi e, para nosso deleite, tão bem conhecemos.

Não deixe de ler.

FOTO no blog: Jô Rabelo

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