Alguém que não digo quem quer me provocar, via redes sociais:
“Que memória de elefante!”
Nada mais diz. Mas, eu entendo o recado.
Remetem às lembranças da infância que se perderam nos confins do tempo e foram assunto do post de ontem, quando retratei a conversa com um desconhecido nas escadarias do Pacaembu, antes do jogo Palmeiras e Fiorentina.
Não há nenhum prodígio nessas memórias.
Explico.
O futebol era tudo o que tínhamos nos meus idos de garoto suburbano e, me permitam a imodéstia, feliz.
Era escola e bola.
Assim que era. Com preferência para a segunda, óbvio.
No recreio das aulas, no pátio do grupo escolar, chutávamos tampinhas. Após o almoço, a turma improvisava um ‘racha’ com bola de meia ou de borracha na calçada em frente às casas. No meio da tarde, o melhor do dia: a bola de capotão rolava solta no campinho da rua Piaí ou no barrancão do Jardim da Aclimação.
Havia uma rixa entre os times das ruas – Muniz de Souza, Piaí, Albino Barbosa, Mazzini etc. Fazíamos um torneiozinho chinfrim. Para nós, era Copa do Mundo.
(Não lembro de algum time levar de sete, mas deixa pra lá.)
À noite, na esquina da Muniz com a Xavier de Almeida, em frente à padaria, os moleques se encontravam para falar… Adivinhem sobre o quê?
Futebol, lógico.
Os truques, traquejos e a arte dos craques que só conhecíamos pra valer na nossa imaginação, em nossos sonhos. Que davam emoção às narrações radiofônicas, estampavam as figurinhas, transformavam-se em contorcionistas e bailarinos nas fotos dos jornais em preto e branco e ganhavam vida nas breves imagens do Canal 100 nas telas do cinema.
Um universo onírico que enchia de corres e feitos nossa existência.
Quando o pai prometia nos levar ao estádio – fosse o Pacaembu, o Parque Antártica (com alambrado), a rua Javari, o Parque São Jorge ou o Canindé (de arquibancadas de madeira) -, o menino não dormia na noite anterior.
O sonho se materializava.
E ele se sentia o cara mais feliz do mundo!
Dá pra esquecer?