Foto: Arquivo Pessoal
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Estranho. Muito estranho.
Abro o e-mail e me deparo com uma provocação, para mim, até então inédita:
One Drive. Suas lembranças. 13 de outubro. Reveja suas memórias desse dia.
Recomenda-se não clicar nesses e-mails suspeitos. Mas, quem lhes disse que eu resisto?
Abro a mensagem – e lá estão meia dúzia de fotos que não me são estranhas.
Penso e repenso.
Remexo no baú da memória.
Descubro, por fim, que eu as tirei em 13 outubro de 2015 numa viagem que fiz ao litoral de Santa Catarina.
Olaia…
Bons tempos.
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Estávamos num dos barcos ancorados na Praia da Armação à espera da partida para hora e tanto de viagem que nos levaria a uma ilha qualquer.
(Não lembro o nome agora.)
Tempo pouco mais nublado que o carrancudo céu de hoje.
Para desencanto da turistada, ouvimos que o passeio seria suspenso por questões de segurança.
“A meteorologia não recomenda.”
Ô dó!!!
A criançada ficou triste, triste…
Alguém lhes disse que era comum aparecer golfinhos a caminho da tal ilha.
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Esperamos alguns minutos na vã expectativa de uma contraordem.
E, já nos preparávamos para desembarcar, quando ouve-se um grito seguido pelo alvoroço.
– Olha eles lá!!!
Eles quem, cara pálida? – ainda respondi em meio à muvuca.
– Os golfinhos, ora… – respondeu o garoto João Pedro.
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Olhei modorrento e sombrio, sem grandes expectativas. Um senhor da minha idade, convenhamos, deve manter a fleuma da indiferença.
Mas, creiam:
Lá estavam os dois bichões, taludos, de dorso escuro, dando voltas e piruetas ao redor das embarcações ancoradas.
Gostaram de se mostrar aos olhos do pequeno grupo de humanoides.
Se não fomos até eles…
Eis que os focinhudos vieram até nós.
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Rapidamente, o pai-herói colocou João Pedro sobre os ombros para que o menino acompanhasse o inesperado espetáculo que durou alguns minutos e muitos “óóóóós” até que os dois caíssem fora, mar adentro.
– Tá vendo, filho, tá vendo? Os golfinhos vieram lhe ver – disse o homem mais do que feliz.
João Pedro ria como se acabara de viver um conto do realismo mágico de Garcia Marquez.
Acreditava piamente que fora ele o motivo daquela inesperada visita e de tantas peripécias.
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Até eu que não sou do mar e vivo, a cada dia, na bruma dos meus 100 anos de solidão, vou lhes dizer que me senti agraciado com o show que acabávamos de assistir.
Os moradores do lugar comentaram que, muito de vez em quando, os ‘pimpões’ aparecem por ali e “é uma farra”.
– Põe farra nisso – comemorou o pai do garoto.
Na verdade, comemorávamos todos.
Até porque, naqueles precisos instantes, de alguma forma, todos nós, independente de idade, revivemos gloriosamente o menino sonhador que um dia fomos.
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O que você acha?