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Lembranças de um velho repórter

Uma história é uma história é uma história…

História 1

O repórter-fotográfico Anísio chegou, à Redação, lívido, assustado, em pânico.

Foi logo dizendo o que lhe ocorrera.

Aproveitou a folga do almoço para pagar o aluguel na imobiliária “para evitar as filas do banco”.

Mal entrou no sobradão e foi rendido por dois assaltantes que, naquele momento, faziam a limpa no estabelecimento.

Desconte-se que o velho e bom Anísio estava um tanto aturdido com o susto e precisava mesmo desabafar.

“Vocês não imaginam o sufoco. Neguinho veio pra cima de mim de revólver em punho. Olho estalado, dizia ‘passo dinheiro’, ‘passa o relógio’, ‘passa a chave do carro’…”

Martinha, a repórter de origem negra, interrompeu bruscamente a fala:

“Anísio, olha o preconceito, que história essa de neguinho… Olha o respeito… Aliás, o respeito é bom e a gente gosta…”

Aturdido pela segunda talagada que levara no mesmo dia, o pobre Anísio tentou remediar a situação do jeito que pode:

“Não, Martinha, nada disso, maior respeito… Você não deixou terminar de falar. Precisava falar do branquinho, esse, sim, era a peste e queria matar todo mundo… Nossa! Como o branquinho era ruim, sô…”

A gargalhada foi geral. Nem a Martinha resistiu ao improviso do amigo Anísio que, efetivamente, não viveu um bom dia.

História 2

O cenário da narrativa acima era a Velha Redação de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor.

Aconteceu ali pelos anos 90.

Éramos um time – e tanto.

Tínhamos nossas rusgas e malentendidos, mas formávamos um bando de amigos jornalistas.

A vida impôs novos rumos a cada um de nós.

Mas, desconfio falar por todos, vivemos ali um momento lindamente inesquecível.

História 3

Como lhes disse no post de ontem, precisei ir ao Ipiranga na tarde de quinta.

Passei pela Bom Pastor e vi que o casarão onde trabalhávamos está com uma placa de “Vende-se”.

Fiquei um tanto nostálgico; outro tanto, tolamente, apreensivo.

Logo, logo veremos um espigão (ou vários) ocupando aquele lugar.

Lembrei Quintana, o poeta:

“O tempo não para. Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo”.

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