Agora, que aquele tempo já passou, posso lhes contar a verdade.
Aliás, basta olhar para a minha ‘faccia’ para saber: nunca fui um grande folião.
Até que, quando jovem, tentei algumas vezes.
Em vão…
Junto com uma turma de amigos, fui – meio que empurrado – àqueles bailes de salão, tão em moda à época. Logo me senti um paquiderme em meio aos serelepes passistas e seres rebolativos à minha volta. Então, tratava de recolher meu descompasso a um determinado canto, onde pudesse assistir ao circular dos ‘contentes’ em redor de um centro imaginário.
Era comum silenciosamente, mesmo em meio ao tumulto e aos alaridos das marchinhas, eu me apaixonar por colombinas, odaliscas e afins que ora passavam à minha frente ora se perdiam em meio à multidão.
Nunca fiquei com nenhuma delas.
Puro desvario…
Ruim da cabeça e doente do pé, também não me foi dado o supremo dom de colocar em prática a fórmula mágica dos inveterados foliões.
Bem que tentaram me ensinar: empine os dois dedos indicadores, erga os braços, entoe um refrão qualquer (Olha a cabeleira do Zezé/Será que ele é/Será que ele é…) e deixe-se levar pelos pares aos saltos e requebros.
É o que chamam de felicidade.
Ou algo bem próximo a tal…
Não funcionou comigo.
Cheguei até a me arrastar por alguns metros. Mas, outra vez a síndrome do paquiderme me foi inevitável. Desconfio que não cheguei a completar uma única volta sequer.
Pior que isto só mesmo quando alguém me tentava ‘carregar’ para o meio da turba.
Quanto constrangimento!
Minha vontade era sumir dali.
Correr, correr, correr, como no filme Forrest Gump. Só reaparecer na quarta-feira de cinza quando todo aquele furdúncio houvesse acabado. Aí, sim, com certo cinismo que me é peculiar, entoava aos quatro cantos aquele samba do Chico:
“Carnaval, desengano.
Deixei a dor em casa
Me esperando…”
*** FOTO NO BLOG: Nova York/arquivo pessoal