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Lembrando os amigos

O amigo Escova me aguarda no ‘buraco quente’ de sempre – aquele área do Sacomã, antigamente (mas põe antigamente nisso) chamado de Ponto Fábrica, onde a vida acontecia com cinemas gigantescos (mais de inacreditáveis 2 mil lugares) como o Samarone e o Anchieta, lojas da hora como A Queridinha e a Nippon, filia de O Baú da Felicidade, outros tantos magazines e alguns botecos malafamados.

Um desses botecos, com os meus cinco ou seis fiéis leitores bem sabem, ficava ali na esquina da rua Bom Pastor com a rua Greenfeld, em frente à agência dos Correios, bem na curva em que o busão Fábrica/Sacomã fazia rangia e bufafa ao fazer a curva e seguir em seu itinerário de mais de duas horas.

Era ali que nós fazíamos pontos antes, durante e depois do expediente da velha redação de piso assoalhado e grandes janelões para a Bom Pastor.

O Sujinho não mais existe (deu lugar à imponente Estação do Metrô), o jornal ainda soçobra como pode e dá em algum canto do Ipiranga (não mais na Bom Pastor), muitos dos nossos não estão mais entre nós – e restam alguns sobreviventes que, vez ou outra se encontram ali e por ali, para reverenciar a memória dos amigos, comentar os assuntos do dia e lembrar que, lá nos confins do tempo, foram felizes, mesmo enfrentando a vida aos trancos e barrancos.

Escova estava especialmente nostálgico hoje. Assim que aboletamos o cotovelo no primeiro balcão que encontramos, ele começou a enfileirar os nomes de alguns amigos que não vemos há tempos: Almir, Valtão, Manoelino, Alfredinho, Cebola…

– Quem mais – pergunto.

E ele continua:

– O Júnior (filho do Nasci); o Ari de Oliveira (que foi vereador em São Bernardo), o Nicola…

E conclui:

– É, não restaram muitos, não.

Nesse interim (a palavra faz jus à nossa época), chega o Poeta que, como eu mora em São Bernardo do Campo, e se diz feliz porque hoje é aniversário da cidade e, portanto, feriado bom pra não se fazer absolutamente nada, além de se encontrar os amigos.

Nada nos perguntou. Serviu-se da cerveja que dividíamos, levantou o copo e propôs um brinde à vida e aos amigos…

– Mesmo aqueles que estão distante e, principalmente, que sobrevivem em nossa lembrança.

Brindamos – e o Poeta lançou a pauta do dia:

– O que vocês acham do vice da Marina?

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