Especular sobre a suposta ligação de Dilma com as denúncias ‘premiadas’ do senador Delcídio para a obstrução dos trabalhos da Lava Jato, pode.
Abrir ‘manchete’ com o escândalo de desvio de merenda escolar no Governo de São Paulo, não pode.
Ou melhor, pode só um pouquinho. Para mostrar a (in)certa imparcialidade.
Fazer o julgamento prévio da ligação do ex-presidente Lula com as empreiteiras que bancaram a reforma do tríplex do Guarujá e do sítio de Atibaia, anunciados como de sua propriedade, pode e se deve.
Contextualizar a informação deixando claro que essas mesmas empreiteiras bancam as campanhas de Pedro e de Paulo, de Dilma e de Aécio, é melhor não – confundiria o entendimento do leitor/espectador.
(…)
Leio os jornalões (as semanais, eu não consigo mais. Perderam o senso), navego por portais e sites dos ‘grandões’, vejo o noticiário da TV (com algum asco), ouço o que o rádio, no carro, tem a me informar…
Penso na rapaziada que passou pelo curso de jornalismo que coordeno e na barra pesada que devem estar enfrentando nesses feudos da mídia nativa, implacáveis defensora do impeachment e do golpe.
Lembro as aulas de História do Jornalismo ou do módulo de Comunicação, História e Sociedade em que os professores tratam, entre outros temas, a queda de Getúlio em 54 e a preparação do Golpe de 64.
O quanto os jornais da época conspiraram, tramaram e colaboraram para as tragédias anunciadas – e, posteriormente, vividas por toda a sociedade.
Tenho a sensação que vivemos um momento bem semelhante.
A tal liberdade de Imprensa foi mesmo para as cucuias. Salve a liberdade da empresa de dizer o que quer e o que bem entender.
(…)
Ainda quando estudava jornalismo na USP nos indignávamos com a célebre frase que Assis Chateaubriand consagrou lá nos primórdios do jornalismo. Sempre que um repórter se insurgia contra a linha editorial que o jornal adotava a partir da orientação do próprio Chatô, a resposta do próprio era bem simples:
– O rapaz, se você quer emitir sua opinião, fique à vontade. Mas, antes, abra um jornal pra você. Aqui, mando eu.
É de se lamentar que a frase continue bem atual.
*Bom de ler:
http://outraspalavras.net/brasil/impeachment-a-pauta-oculta/