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Lições inesquecíveis do velho Mestre…

"Nada há mais suave que um jovem sonho de amor" (Tomas Moore)

01. Às 15 horas deste domingo, jovens de todas as partes da cidade reúnem-se na Praça da Sé para celebrar o Dia Nacional da Juventude. Haverá uma cerimônia campal com o arcebispo Dom Cláudio Hummes e todos os bispos das regiões episcopais — inclusive, o do Ipiranga Dom Antônio Celso de Queiroz. Em seguida será realizada uma passeata de protesto, antecipadamente denominada
Dívidas Sociais, que terá como lema a vida em plenitude, trabalho para a juventude. O manifesto vai terminar na avenida Paulista, com grande congraçamento e, obviamente, a música sacudida de um trio-elétrico… Aliás, é muito bom que assim seja. Essa garotada precisa mesmo se manter consciente, mas não deve nunca perder a fé e a leveza de alma…

02. Aqui pela Redação de GI, nos anos 80, era ponto de referência para nós, os então mais jovens, um certo colunista que assinava a coluna da página 2, com o codinome de Zé Armando. Veterano de outras paragens mais famosas, como emissoras de TV e memoráveis campanhas publicitárias, sabia contar histórias que literalmente faziam nossas cabeças. Beiravam ao fantástico e, não raras vezes, comentávamos às escondidas que o Mestre estava exagerando. Não era possível, nem dava para acreditar. Tudo mentira — alguém sempre fazia questão de contestar. Mas que ele tinha imaginação, ah!, isso ninguém discutia… Aliás, todos adoravam essas verdadeiras fábulas dos anos 60 e incondicionalmente nos postávamos receptivos aos novos ensinamentos. Havia um imensurável carinho entre o grupo e foi ótimo que assim tenha sido. Mais tarde, sua ausência provou a veracidade dos causos contados e mais: ele sempre tinha razão.

03. Uma coisa que sempre me fascinou era a forma como o Mestre (que nesta semana completaria 65 anos) sabia lidar com a gente, moleques crescidos e prontos a questioná-lo a todo momento. Seu irresistível — e quase sempre implacável — senso de humor talvez fosse o segredo.

04. Vejo hoje, tempos depois, o quanto é essencial a virtude de conviver harmoniosamente com o pessoal mais novo. Até porque, cofiando minha rala barba grisalha, entendo melhor uma de suas frases preferidas: o mundo é dessa moçada, que ri de qualquer bobagem, dança qualquer música, viaja sem marcar o bilhete da volta, vira noite na bagunça e, horas depois, está pronta para outras baladas. Não se queixa de dor alguma e enfrenta qualquer desafio com a certeza de que vai construir um futuro melhor.

05. Particularmente gostaria de ter o dom do inesquecível amigo. Dizem que o peso dos anos e dos fracassos nos deixam assim; mais pra lá do que pra cá. Abrimos mãos da esperança, de nossa fé no amanhã… Mas, continuamos a caminhar, robotizados, desdenhando a própria sorte e as conquistas que nos trouxeram até aqui.

06. Estar vivo já é um milagre… Estar vivo, com saúde e alguns trocados no bolso é bom demais. Valho-me de outra citação do Mestre para levantar o astral da conversa e exemplificar aos jovens de todas as idades que desespero não é resposta para nada nesta vida de meu Deus. Sei de alguém que me confessou ter aberto mão de todos os sonhos e nem chegou aos 30. Fala como se nada levasse a nada. Pensa em abandonar tudo e largar-se ao sabor das convenções. Liguei o piloto automático, agora que se dane… — lamentou.

07. Não tiro um centavo de suas razões. Só que seria mais verdadeiro que identificasse e fosse mesmo atrás de seus sonhos (palavra bonita, não?). Ademais, pode errar e experimentar à vontade. O tempo, compositor de destinos, conspira a seu favor. Principalmente se estampar o sorriso luminoso que a faz próxima, bem próxima, dos belíssimos ideais. Abra os belos olhos garota. Tristeza, acredite, não combina com mocidade. Mesmo sem a sapiência do saudoso Mestre, repito seus ensinamentos e, olhe, o que ele falou é a mais pura e cristalina verdade: o mundo é dessa moçada, que ri de qualquer bobagem, dança todas as músicas… e enfrenta qualquer desafio, com a certeza de que vai construir um mundo melhor. O resto é farelo. Melhor deixar que o vento os carregue…

[Texto publicado no livro “Volteios – Crônicas, lembranças e devaneios”]