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Lua vermelha

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Uma decepção, meus caros.

Não consegui ver o anunciado eclipse total da Lua que, dizem, foi coberta pelas sombras da Terra.

Mesmo assim, ouso escrever sobre…

Pelo ratatantantam que espalharam, pensei que seríamos todos contemplados com o dito ‘maior espetáculo da Terra’.

O tal e o qual foi anunciado como fenômeno raro, vistoso. Com a cumplicidade de Júpiter que se alinharia nos céus e também se revelaria visível e cousa e lousa, mariposa e lantejoulas.

Uma experiência sensorial, emocional e intelectual!

Uau!

Para completar deram um nome dramático, quiçá vampiresco do bem à coisa toda:

Lua de Sangue.

(…)

Arrepiou!

Já lhes disse aqui – e sempre repito e hoje extrapolo – que tenho uma (in)certa tendência a ficar imaginando coisinhas. A romancear e remoer ideias amalucadas, lembranças e afins.

Por ser e acontecer em uma sexta-feira, dia internacional do bem-bom – como, na velha redação, eufemisticamente definíamos a sexta que só termina na manhãzinha de sábado -, achei cá comigo que a Terra ontem tremeria enquanto a propalada transfiguração acontecesse assombrosa, límpida, soberana e… inesquecível.

Vou lhes dizer, e digo: sequer me liguei no penúltimo capítulo da novela “Deus Salve o Rei”.

Dada a magnitude do fato, estávamos todos salvos, redimidos.

(…)

Tarde que cai e se faz noite mansa, volto pra casa abatido, desencantado da vida, como ensina a letra daquele samba do Vanzolini; coração aos trancos, olhos à espreita, vidrados no alto entre as silhuetas dos prédios – e o que intuo?

A dita belezura  da Lua Vermelha  logo irá se arreganhar toda, inteira; linda e bela.

Assim, penso, irá comover a todos e enfeitiçar e magicamente nos dar a clarividência que hoje anda em falta… A compreensão do caminho e do destino. Todos nos reconheceremos humanos, irmãos, iguais; portanto, gentis e solidários uns com os outros.

Enfim e por fim, penso, seremos todos mais felizes.

Está mesmo que mais do que na hora de o Planeta voltar ao eixo natural da fraternidade e, por que não, da esperança em dias melhores.

(…)

Pô, o céu continua carregado, escuro, sem estrelas; nuvens e mais nuvens pardacentas.

Não chegam a ser ameaçadoras, mas, na boa, nada inspiram…

E a Lua, compadre?

Cadê ela, comadre?

(…)

Não veio, e não virá – igual à fala daquela personagem com que início o livro/romance que ameacei a escrever, e nunca terminei.

Faz tantos anos… 20, talvez.

Dias atrás, sem querer, reencontrei os originais no fundo de uma gaveta, dentro de uma pasta vermelha; pardacentos como as nuvens de ontem e minha imaginação hoje.

Talvez no próximo eclipse eu reveja a personagem, retome a história e o encantar-se… Talvez.

Talvez.

*(foto: brasília, ontem. memorial JK/marcello casal/ag.brasil)

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