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Lygia e o amor

Releio A Disciplina do Amor, de Lygia Fagundes Telles,

Gosto demais do livro, lançado em 1980 – ainda hoje me deliciam as breves histórias narradas pela autora em primeira pessoa.

São envolventes. Rapidamente, conseguem me cativar e, de forma suave e intrigante, chegam a me transportar para o local da cena.

Sinto-me o próprio confidente da autora.

Uma provocação, permitam-me.

Vejam se acontece o mesmo com vocês?

Leiam o trecho em que Lygia encontra um conhecido numa livraria que lhe questiona sobre a escolha do título do livro.

A gente quase participa da conversa.

Vamos lá, desligue um tantinho desta dura realidade que hoje enfrentamos.

Experimente!

Por vezes, a vida precisa de uma pausa, ensinou outro Poeta, o Drummond.

Lygia, com a palavra:

“Encontro com F. na livraria.

Estranhou o título que vou dar a este livro, mas por que a disciplina do amor?

O amor tem lá disciplina? Perguntou e deu a resposta: o amor disciplinado nunca foi amor, pode ser método, arrumação no sentido de se botar tudo direitinho nos lugares, cálculo, mas amor?

Pois amor não era ilogicidade? Transgressão?

Digo-lhe que a indisciplina está só na aparência, na superfície. Na casca. Porque nas profundezas o amor é uma ordem e de uma harmonia só comparável à abóboda celeste.

Ele ficou me olhando. Arqueou as sobrancelhas, surpreendido:

– Mas então só conheci o amor superficial? Cada vez que amei foi tanta a insatisfação e a insegurança. Fico em total desordem.

Desejei-lhe um amor verdadeiro e ele riu, desafiante.

Quis saber se por acaso eu tinha atingido no amor essa plenitude celestial

Não respondi.

Falamos sobre política, livros.

Mas quando saí da livraria, me vi Adão sendo expulso do Paraíso, o semblante decaído e o olhar no chão.”

Nota do Blogueiro:

E aí? Aguardo comentários…

Foto: arquivo pessoal
1 Response
  • Leila Yaeko Kiyomuira Moreno
    28, fevereiro, 2019

    Amigo, Lygia Fagundes Telles tem razão. O amor exige disciplina. E só quem ama imensamente chega aos 95 anos escrevendo. Inspiração? Não. Pura disciplina de um cotidiano se relacionando com o tec tec da máquina de escrever, com as ondas do mar, com o universo. Lembro, da última vez, há alguns anos, em uma cerimônia na Faculdade de Direito, fiquei ensaiando em cumprimentá-la. Mas não tive coragem. .Preferi contemplar a escritora na sua inquietude de buscar histórias e em sua disciplina de amar compartilhada entre infinitos leitores.
    Obrigada pela leitura

    Leila

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