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Lygia Fagundes Telles

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Foto: Divulgação

Encontro com F. na livraria.

Estranhou o título que vou dar a este livro, mas por que a disciplina do amor?

O amor tem lá disciplina? Perguntou e deu a resposta: o amor disciplinado nunca foi amor, pode ser método, arrumação no sentido de se botar tudo direitinho nos lugares, cálculo, mas amor?

Pois amor não era ilogicidade? Transgressão?

Digo-lhe que a indisciplina está só na aparência, na superfície. Na casca. Porque nas profundezas o amor é uma ordem e de uma harmonia só comparável à abóboda celeste.

Ele ficou me olhando. Arqueou as sobrancelhas, surpreendido:

– Mas então só conheci o amor superficial? Cada vez que amei foi tanta a insatisfação e a insegurança. Fico em total desordem.

Desejei-lhe um amor verdadeiro e ele riu, desafiante.

Quis saber se por acaso eu tinha atingido no amor essa plenitude celestial

Não respondi.

Falamos sobre política, livros.

Mas quando saí da livraria, me vi Adão sendo expulso do Paraíso, o semblante decaído e o olhar no chão.

* Trecho do livro A Disciplina do Amor, de Lygia Fagundes Telles (1923/2022).

Uma das obras literárias de minha preferência.

Soa-me assim como um oráculo de trinados sensíveis que nos levam ao embevecimento.

Gosto demais do livro, lançado em 1980 – ainda hoje me deliciam as breves histórias narradas pela autora em primeira pessoa.

São envolventes. Rapidamente, conseguem me cativar e, de forma suave e intrigante, chegam a me transportar para o local da cena.

Sinto-me o próprio confidente da autora.

Foi assim – e assim, creio, sempre será…

Descanse em paz, Lygia.

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