Tentar ela bem que tentou.
Eu, cabeça dura que sou, não consegui entender.
Mas, L. – a moça que faz pós na USP – insistiu.
Disse que seu trabalho acadêmico é sobre um pensamento japonês muito bonito chamado "Ma".
O “Ma” aplicado às artes plásticas.
Fiz cara de paisagem.
II.
L. continuou:
“O Ma é algo indefinível e, ao mesmo tempo, define um monte de coisas”.
Deu dois exemplos, antes de desistir.
III.
O primeiro:
”Quando você está no vazio sem saber para onde ir.
Entre dois sonhos, duas mulheres, duas culturas, você está no espaço Ma.
Para o ocidental o vazio é o fim, a depressão.
Para o japonês é o começo de tudo”.
(Esqueci de dizer: L. é descendente de japoneses.)
IV.
Exemplo 2:
”Os músicos ou dançarinos japoneses só se apresentam bem, quando o Ma dentro dele está pleno.
O Ma é também um sonho a ser alcançado.
Entendeu?”
Acho que a decepcionei, pois continuei paisagisticamente em sólido silêncio.
V.
Em casa, à noite, vejo no programa Sem Censura, de Leda Nagle, o ator Pedro Cardoso falar da peça que está encenando no Rio de Janeiro e que se chama Uãnuei. Não há texto, não há roteiro. Os atores em cena improvisam a partir de um mote dado pela platéia.
Como é isso, espanta-se a apresentadora.
E os olhos do ator se enchem de brilho para falar da sensação que tem no exato momento em que ouve o tema anunciado pela platéia.
Pura adrenalina, pergunta a apresentadora.
Mais do que isso, responde Cardoso.
— Não fumo, não bebo, não cheiro. Não gosto de nada disso. Nem sei como é… Mas, ô, nossa, que barato é esse que dá nesse exato instante? Não sei definir…
VI.
Modestamente, caros, posso dizer agora que eu sei:
É este o espaço “Ma”.
(Tomara que a L. leia este post para saber que nada foi em vão e eu sei…)