Quando o pai abandona o lar, a mãe se sente na obrigação de suprir a necessidade financeira e afetiva. “Com o acúmulo da função familiar, ela não tem como dedicar 100 por cento do seu tempo aos filhos”.
Ainda de acordo com o psicólogo, Reinaldo da Cruz, caso o jovem não sinta que há uma estrutura familiar dentro de casa, ele vai procurar na rua alguém que o acolha, que lhe proporcione prazer e reconhecimento. É aí que entra o tráfico. Ele dá a ilusão de ajudar as famílias que precisam, de proteger os adolescentes e dar emprego para sustentar os lares. “É no narcotráfico que ele conseguirá dinheiro e status, o que seria uma forma de mostrar para a família e amigos que é capaz de algo e tem quem o aceite”.
Por trás de um adolescentes que vai para a Fundação CASA, existe uma família em situação de risco, que impulsiona o jovem a cometer um ato infracional. Essa é a definição de Ariel de Castro Alves, advogado e presidente da Fundação Criança de São Bernardo do Campo (SP). “Além de ter influência na formação dos adolescentes, existe também o outro lado. Se a família é do crime, a situação vira um ciclo vicioso. Aquilo que ele presencia em casa, até mesmo quando ainda é criança, faz com que assimile certas atitudes como normais.
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O apoio familiar na saída do adolescente é fundamental para a volta do jovem ao convívio social. “O ideal para uma recuperação sadia seria o acolhimento, porém, alguns cuidados devem ser tomados. Reprimir demais é ruim, pois impede a autonomia do adolescente, que acaba ficando mais vulnerável ao que o mundo tem a oferecer”, completa a psicóloga Jeannie Cheisty Illison.
Para Maria Fátima Geiardo, educadora social do Núcleo Psicosocial e de Proteção Especial ao Padre Paschoal Bianco, para que haja recuperação por parte do jovem deve existir equilíbrio entre ambos. A falta de confiança e o medo de errar novamente é um sentimento quase unânime entre as mães que são presentes. “Trata-se de uma via de mão dupla. A mãe precisa confiar e o filho precisa passar confiança”.
A mãe precisa acreditar no menino. Consequentemente, o adolescente tem de perceber que a mãe, na maioria dos casos, sempre lhe dará uma segunda chance.
* Trecho do livro-reportagem “Mães da FEBEM”, apresentado e aprovado como trabalho de conclusão do curso de jornalismo da Universidade Metodistas de São Paulo. Autores: Fabiana Garbelotto, Paula Meirelles e Renata Nogueira. Orientação: Profa. Dra. Margarete Pedro.
* Foto: Jô Rabelo