No Cambuci ‘velho de guerra’, os chamávamos de ‘malandros campainhas’, aqueles que apertam e saem correndo. Na verdade, era uma antiga brincadeira de criança que consistia em apertar a campainha das casas e desaparecer na primeira esquina em desabalada carreira. Com caras de tontos felizes, imaginávamos a dona de casa a largar o feijão na panela, sair ao portão e esbravejar por não ver ninguém por ali.
Como deu para perceber, eram outros tempos.
Um tanto ingênuos. Bobocas, eu diria.
Tempos em que a molecada vivia na rua sem grilos e maiores perigos.
Que a maior parte das mulheres era ‘do lar’.
Que os prédios de apartamento eram raros nos bairros paulistanos.
Tempos idos e vividos, como podem perceber.
Não sei se melhor ou pior, insisto, mas diferentes.
É certo que a garotada de hoje – ao menos, nos grandes centros – prefere outras brincadeiras, na linha dos games e afins.
Também não têm a liberdade que tínhamos.
É da vida e dos amores. Vantagens e desvantagens para engrossar as dissertações sociológicas de início de século – que, aliás, está preste a esgotar a primeira década, já repararam?
Se não reparam, reparem.
Aliás, reparem também que muitos jovens – já entrados nos 20 ou 30 – se ressentem de não terem vivido tão inebriante experiência: tocar a campainha e correr para o nada.
Verdade.
Hoje, eu os vejo, mesmo crescidinhos, em situações que fazem lembrar o ‘malandro campainha’ que fomos – eu e os meus pares, na infância.
Qual a malandragem, por exemplo, do garoto na baladinha tomar todas e mais algumas e não passar do estacionamento. Ficar por ali com a boca cheia de formiga. Sem noção.
E a tal música eletrônica, então?
É um tunf tunf tunf sem fim na cabeça da rapaziada. Que se requebra como pode, como se tivesse sendo eletrocutada.
Aliás, particularmente, considero a segunda parte a mais interessante.
Se bem me recordo, é assim: outro tunf tunf tunf sem fim. Como se algo tão versátil, criativo e interessante quanto um bate estaca ditasse a trilha sonora das nossas vidas, alegrias e prazeres.
Ah! Mas é música (sic) para se dançar. E cada época tem lá seu ritmo, alguém há de dizer. A bem da sinceridade, como disse eu ao Velho Aldo, meu pai, quando ele me perguntou como eu conseguia ouvir aqueles roquezinhos chinfrins de não mais do que três acordes.
Concordo – e não prorrogo a discussão, até porque este post está ficando longo demais. No entanto, gostaria que alguém me explicasse o porquê o pessoal cisma de ouvir tal baticum no carro, sozinho, a todo volume.
Nós, na calçada, pensamos que é um trio elétrico ou similar. Nossos típanos tremem. O carro treme. A Terra treme. E a moderna versão do ‘malandro campainha” ali, ao volante, como se nada estivesse acontecendo…