A moça me perguntou sobre a “leveza” dos textos que escrevo.
— De onde vem?
Nunca atentei para tal característica – se é mesmo que existe nas minhas mal alinhavadas linhas?
Antes de lhe responder, deixei-me levar pelo filminho que naturalmente me veio à mente.
O protagonista da cena é o Velho Marques a ‘canetar’ minhas primeiras reportagens.
— Você escreve até que razoavelzinho.
Para maioria de nós, tenros repórteres, ouvir isso do nosso primeiro editor soava como o maior dos elogios.
Todos admirávamos o Marcão – e gostaríamos de escrever como ele.
Em sua coluna, fazia um resumo da semana, conectando um fato ao outro por mais díspares que pudessem parecer. Pouco mais de uma lauda – ou seja, vinte e tantas linhas de 70 toques cada – e estava “tudo muito bem explicadinho, nos seus mínimos detalhes”, como dizia um personagem da Praça da Alegria, o programa humorístico de maior audiência da época.
Fazia críticas contundentes, sem perder o humor e a fina ironia.
Não raras vezes, os alvos de seus comentários – quase sempre políticos e governantes – reclamavam diretamente com o dono do jornal. Que, meio que sem jeito, dizia para o Marques maneirar, dar uma trégua.
Ele até admitia que iria tomar jeito.
Mas, na coluna seguinte, caía de pau no desafortunado que foi dedurá-lo ao patrão.
Na redação, diziam que uma das polêmicas de maior repercussão foi com a então deputada Maria Conceição da Costa Neves.
A parlamentar era conhecida por seus inflamados discursos.
Em um deles, lascou que um dos tantos problemas que o País enfrentava vinha desde antes de Pedro Álvares Cabral aqui desembarcou.
Ninguém nunca soube qual foi o tal problema anunciado pela deputada.
Mas, todos sabiam de cor como começava a coluna Marcão:
“A deputada Maria Conceição da Costa Neves discursou ontem na tribuna da Assembléia Legislativa. Ela, que viu Pedro Álvares Cabral desembarcar no Brasil…”
Marcão era genial.
Eu continuo me esforçando, e insistindo.
** FOTO NO BLOG: Lucas Lima