A notícia da morte do cantor/compositor Marku Ribas deu um tom melancólico (desconfio que algo ranzinza) ao meu domingo. Esse mineiro de Pirapora era um dos tantos ‘saltimbancos’ de nossa música popular que sempre viveu à margem da grande mídia, sempre envolvida com modismos e atrocidades sonoras. Talvez por isso mesmo o som de Marku não conseguiu quebrar essa nefasta resistência. Ele era um apaixonado pelo que fazia e um ardoroso pesquisador das diversas sonoridades que trafegam pelo roteiro África, Brasil e Caribe. Chegou inclusive a morar nas Ilhas Martinica (dois anos) e nas Ilhas Canta Lúcia (mais dois anos), onde conheceu Bob Marley, então crooner da banda The Waylers.
Entrevistei Marku nos idos de 70 quando ainda era considerado um talento promissor da geração pós-tropicalista. Na ocasião estava lançando “Barrankeiro” (77), um dos doze álbuns que gravou durante 50 anos de carreira, e estava entusiasmado com as amplas perspectivas que a MPB projetava a partir de talentos como Djavan, Alceu Valença, Belchior, João Bosco, Ivan Lins, Fagner, Zé Ramalho, entre outros. Éramos então o quarto mercado fonográfico do Planeta e sopravam os bons ventos da redemocratização. Com ele, o que entendíamos ser o fim da censura. Ou seja, mais espaço para a verdadeira música brasileira…
A censura oficial acabou, mas nem todos tiveram acesso aos meios de comunicação para mostrar efetivamente sua arte. Veio a padronização de um gênero em detrimento à nossa diversidade musical – o rock nativo nos anos 80, o axé, o breganejo, entre outros tantos ‘abacaxis’ – e quem não se curvou ao modismo sobrou nas curvas do caminho.
O legal que esses resistentes nunca deixaram de caminhar. Eles ainda estão pela aí e acreditam que a arte é a verdadeira expressão cultural – e de vida – de um povo. Marku era um desses; morreu na noite de sábado, aos 65 anos. Mas, seu legado musical permanece…