Vou dar um repeteco no pedido
que fiz aqui em 10 de dezembro e
só meia-dúzia de pessoas se
pronunciou — e ainda via email.
Ninguém postou nada…
Resultado: estou aqui a falar sozinho.
A contar histórias que conheço…
Acho ótimo e tal, mas blogar não é estrada
de mão única. Consta dos manuais que é
preciso interagir. Que o leitor também participe…
Então…
Deixe de preguiça!
Me fale de você.
Conte-me três histórias. Breves, brevíssimas…
Uma que você viveu…
Outra que observou…
Uma terceira que gostaria de ter escrito…
Vou dar o exemplo, e lhe contar outras três.
(Mas, não agora.
No decorrer do dia…
Tô com uma pregui que você nem imagi!)
I.
Vou começar com a que observei.
Faz algum tempo já. Mas, eu não esqueci.
Lá vai…
Despediram-se, com um abraço e um beijo,
à entrada do Terminal Tietê – Estação Rodoviária
de São Paulo. Ao que entendi, ela iria visitar
a família numa cidade do interior – Caçapava,
creio ter ouvido – e ele ficaria aqui a trabalho.
Nada demais. Só a frase que a moça disse
não esqueço tantos e tantos anos depois.
"Um beijo pra cada segundo
que eu estiver longe de você."
Ele se fez a expressão da felicidade.
E eu fiquei com uma invejinha que,
pelo jeito, não curei ainda hoje…
Eu volto…
II.
Agora, a que eu vivi…
Vamos aos meus anos mais verdolengos –
ando lendo Machado de Assis; dai, o "verdolengo".
Estamos precisamente em 4 de dezembro de 1968,
não esqueço porque era meu aniversário…
Por uma dessas ironias da vida, tive que
me apresentar ao glorioso exército nacional.
Acordei à quatro da manhã, e fui o sexto
a chegar no quartel do Parque D. Pedro.
Ansioso, queria ver logo que bicho dava.
Seria, pois, um dos primeiros a ser atendido.
Lá pelas 8 horas chegou um sargentão.
Olhou a fila de gente. Era enorme.
Franziu a testa e deu um berro
que era uma ordem.
— Quem está no colegial ou na universidade?
Só eu e mais um levantamos a mão.
Fomos sacados da fila e convocados a ajudar
‘voluntariamente’ na inscrição dos candidatos.
Acabamos por ser os últimos a preencher
a tal ficha de apresentação…
Por volta das onze meia, todos no pátio
esperavam a decisão. Quem fica e quem
não fica. Uma tortura em dia de chuva.
(Antes, vale lembrar, passamos
pelo exame médico. Um monte de
marmanjos pelados inventando as mais
estranhas doenças para ludibriar o médico
que nada dizia. Só nos olhava e seguia,
após um breve rabisco na planilha.)
Mas, voltemos ao pátio…
Um a um, os nomes foram sendo
declinados. Quem ‘pegaria’ o exército
ia para um lado; os demais recebiam o
certificado de dispensa – e saíam alegremente.
Meu nome foi o último a ser chamado…
Fui dispensado por um tal de
"excesso de contigente". Ufa!
Ainda hoje não sei a quem agradeço.
Se ao sargentão ou ao meu magnífico
anjo da guarda? Melhor ser prático
e agradecer aos dois que
me tiraram do começo da fila…
III.
O que eu gostaria de ter escrito?
Hum!
"Quando Deus te desenhou…"
Não, não, não…
Estou zuandoo Dinoel que
só sabe cantar essa música.
Queria ter…
… desenhado as estampas
da camisa do Dunga. Arghhh!
Brincadeira, brincadeira…
Queria mesmo ter assinado
a letra de "Todo Sentimento",
que transcrevo a seguir:
"Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar e urgentemente
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez
Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente
Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
Te encontro com certeza
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu."
(Chico Buarque/Cristóvão Bastos e eu)
Já imaginou…