Ando saudoso.
Não sei de quê,
não sei de quem…
Talvez de mim.
Por isso, retomo hoje a proposta
que fiz aqui, neste espaço,
em 10 dezembro de 2006.
Me fale de você…
É…
Conte-me três histórias. Breves, brevíssimas…
Uma que você viveu…
Outra que observou…
Uma terceira que gostaria de ter escrito…
Vou dar o exemplo, e lhe contar as minhas…
I.
Devia ter uns sete ou oito anos
quando fui, pela primeira vez,
a um estádio de futebol.
O Parque Antártica, óbvio.
O Parque Antártica que ainda
não era o Jardim Suspenso, de hoje.
Meu pai me levou.
Era um Palmeiras e XV de Piracicaba.
Impressionou-me a camisa com largas listas
horizontais, em preto e branco, do XV.
Impressionou-me mais o futebol
de dois jogadores: o camisa 10,
Ênio Andrade, e o camisa 11,
Chinezinho. Ambos gaúchos.
E do Palmeiras, claro.
Antes do jogo, houve a inauguração
do busto em bronze de Valdemar Fiúme,
que o pai disse: jogava muito.
e não jogaria mais.
Como assim? – perguntei.
O pai fechou questão.
— Ficou velho.
Encerrou a carreira.
Eu que sonhava ser boleiro,
imaginei um dia, em bronze,
o meu rosto de garoto sonhador.
Desconfio que foi a primeira vez
que tive a sensação do efêmero…
II.
Outra de quando era menino de tudo,
usava calças curtas e suspensórios.
Acordava feliz para
acompanhar minha mãe
à procissão que saía às 4 horas
da manhã do domingo de Páscoa.
Representava o encontro de
Nossa Senhora com o Filho ressuscitado.
— Que menino devoto, diziam.
— Vai ser padre, apostavam.
Nem uma coisa. Nem outra.
Gostava mesmo de ver a leva
de boêmios, de passos trôpegos
e roupas amarrotadas, que “voltava
da farra” dos bailes do Sábado de Aleluia.
Os rapazes vinham em sentido contrário.
Tiravam o chapéu, respeitosamente.
Mesmo assim, não conseguiam
parar de sorrir.
Me pareciam tão felizes, tão audazes.
Que prometi a mim mesmo:
Um dia, seria um deles.
III.
Como não fui eu que fiz?
Os versos de Renato Teixeira
e Almir Satter para “Tocando em Frente”.
“Todo mundo ama um dia,
todo mundo chora.
Um dia a gente chega,
no outro vai embora.
Cada um de nós
compõe a sua história.
E cada ser em si carrega
o dom de ser capaz
de ser feliz”.
Outra vez, a sensação do efêmero.
"Um dia a gente chega,
no outro vai embora".
Mas, o que pega mesmo,
convenhamos, é a bendita sensação
"de ser capaz de ser feliz".