“Era uma tarde de fevereiro de 1949 e o jovem radioator Walter Foster matava o tempo jogando uma partida de peteca no pátio da Rádio Difusora de São Paulo, no Alto do Sumaré, em companhia dos radialistas Cassiano Gabus Mendes e Dermeval Costa Lima. Sobre o muro que dava para a rua podiam se ver as cabeças de algumas mocinhas – eram as fãs dos galãs da rádio que passavam várias horas por dia ali, à espera de um sorriso ou um autógrafo.
No meio do jogo, a quadra improvisada é invadida por Assis Chateaubriand de terno preto de lã e chapéu gelot na cabeça, acompanhado de um grupo de homens, todos de paletó e gravata, trazendo nas mãos pedaços de papel, trenas e diagramas. Empurrando os jogadores de peteca com o ombro, Chateaubriand tira do bolso do paletó um pedaço de giz e vai riscando o chão e dando ordens em voz alta ao homem que estendia a trena sobre o cimento:
— Aqui vai ser o estúdio A. Agora espiche a trena para o lado de lá, ali vai ser o estúdio B. Veja se confere no mapa.
Walter Foster se aproxima cautelosamente do patrão e pergunta:
— Mas, doutor Assis, o senhor está pretendendo acabar com o nosso campinho de peteca?
Sem se levantar por completo, ele ergue os olhos com desdém:
— Vocês vão jogar peteca no diabo que os carregue: aqui vão ser os estúdios da TV Tupi (a quarta estação de televisão do mundo e a primeira da América Latina).”
*Do livro “Chatô – O Rei do Brasil”, de Fernando Morais.