Vou lhes falar de um corintiano inesquecível.
Não foi boleiro.
Não foi cartola.
Não foi chefe de torcida.
Foi apenas um garoto tímido, sempre de sorriso a iluminar-lhe o rosto, que viajou fora do combinado, quando sequer completara 20 anos.
Garoto ainda (devia ter uns doze ou treze anos), meu sobrinho Júnior ousou virar casaca. Sabe-se lá por quais motivos, certo dia, resolveu enfrentar a tudo e a todos da família amplamente palestrina para dizer-se corintiano.
Pode?
Primeiro, o fez discretamente, como era, aliás, de seu feitio.
Depois, a plenos pulmões. Tanto que, por mais que tentassem irmãos, primos, tios e os demais membros da família, não conseguíamos demovê-lo da estranha e avassaladora paixão.
Certa vez, chegamos a convencê-lo a ir ao Palestra Itália com a gente. Quem sabe, no meio da empolgação de uma vitória do Palmeiras, recuperávamos o Juquinha para as nossas lides.
Nada feito.
Em meio à torcida alviverde, o máximo que conseguimos foi ouvi-lo o tempo todo reclamar de uma estranha e súbita dor de cabeça. Seu irmão, o Tchelo, gozador que só, desconfiou da manha do garoto – e fez uma impiedosa ameaça. Denunciá-lo à Mancha:
— To sentindo cheiro de gambá!
Não houve escapatória, Juquinha abraçou o irmão e ensaiou dois ou três gritos de Verdão ê ô…
Passada o perigo, desarmados os ânimos, voltou a reclamar da “horrível dor de cabeça”.
— Vambora, tio, vamu…
Solidários a tantos pedidos, acabamos saindo mais cedo do estádio.
Mal entramos no carro, foi a vez dele dar o troco aos nossos escangalhados ouvidos:
— Timão ê ô… Timão ê o…
Foi só o que escutamos durante todo o trajeto.
Neste primeiro de setembro, ao lhes narrar essas lembranças, aproveito para parabenizar o centenário do nosso mais ilustre rival. Há que se reconhecer nossas conquistas são mais belas quando os vencemos em campo (Desconfio que a recíproca é verdadeira).
Se me permitem – sei que a festa é de vocês –, mas tomo um tantinho dela para mim a fim de lembrar o Juquinha e assim aplacar – se é que isso é possível – a imensa saudade do meu corintiano inesquecível.