Foto: Rei Momo recebe a chave da cidade/Alexandre Macieira_RioTur
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No embalo de nossa conversa de ontem, a Sra. Plácida M, ‘assídua leitora do Blog’, me propõe um instigante questionamento:
Pergunta-me sobre as melhores lembranças dos tantos quantos carnavais que vivi.
Aproveito a momesca manhã de sábado para serena e placidamente lhe responder, amável leitora, que talvez eu a decepcione.
Nunca fui lá um grande folião.
Desde a infância, registre-se.
Vez ou outra em meus retiros espirituais, acredite, intuo que, o dom do festejar, passou longe de minhas competências e habilidades.
Mesmo assim, tentarei lhe responder da melhor maneira.
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Quando criança, até cinco ou seis anos, guardo o registro em fotos antigas do então meninote Tchinim paramentado de cowboy, pirata e toureiro.
Exigência familiar, creio
Minha expressão facial, porém, não é lá de grande felicidade. Semblante sério, zero sorriso, jeitão de quem preferia não estar ali.
Única sensação boa que tenho desses idos é o colorido dos confetes e serpentinas em mãos das crianças e a incrível e despudorada fragrância do lança-perfume pelo ar.
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Na adolescência, quando ninguém mais me chamava de Tchinim, a moda eram os bailes de carnavais em clubes.
Ir eu ia.
Mas…
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Meu apelido era ‘Pé na Parede’, definição que meus irrequietos amigos davam à minha desenvoltura durante o desenrolar animado da chamada seleção musical.
A turma só pedia, em tom deboche, que avisasse a qualquer um deles em que canto eu iria me aboletar, feito estaca, para que a gente não se perdesse de vez.
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Vou lhes dizer que, dada à minha inadaptação para a dança, eu gostava de ficar próximo ao palco vendo o desempenho dos músicos, dos cantantes e, principalmente, das bailarinas.
Também gostava de apreciar os foliões e as foliãs, com passinhos cadenciados, a girar pelo salão num ir e vir infindo.
Nessas horas, confesso, sempre me perguntava sobre os mistérios que envolve a felicidade coletiva que todos aparentavam vivenciar.
Será que estaria na ponta dos dedos indicadores que esses seres sacolejantes traziam erguidos para o alto?
Talvez o gesto funcionasse como antena a captar a tal energia magnética e espontânea em ondas incontroláveis…
Talvez.
Ainda hoje tenho lá minhas suspeitas.
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Confesso que tentei, assim meio que disfarçadamente, ergue-los duas ou três vezes para ver se dava liga. Até ensaiei uns passinhos.
Mas, até o Homem de Lata teria mais ginga do eu.
Nada aconteceu.
Enfim…
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Já rapazote diria que minhas performances carnavalescas não deixaram-me qualquer saudade.
Certa vez, com alguns amigos, fomos num potente Fusca-Bala ao baile pré-carnavalesco da Ilha Porchart.
Era badaladíssimo.
Passava na TV e tal.
Só tinha bacana por lá.
Mulheres lindas. Esvoaçantes, dançantes, e cousa e lousa e maripo(u)sa.
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O pai de alguém iria liberar a entrada pra gente.
(Olhem a conversa… Sem noção mesmo.)
Encarnei um mal-ajambrado Beto Rockfeller, o famoso bicão da novela da moda, magistralmente interpretado pelo inesquecível Luiz Gustavo, e lá fomos nós.
Vai dar certo!!!
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Não deu,
Óbvio que não.
O possante turbinado em que estava o filho do pai generoso – aquele que ia dar o salvo-conduto aos desvalidos – disparou pela Anchieta e babau noite de gala.
Chegar lá até que chegamos.
Não passamos dos portões de entrada, porém.
Ainda vimos, numa improvisada fila do gargarejo, a chegada triunfal das celebridades de então.
Sobrou pra gente improvisar um futebolzinho maneiro numa ponta da praia com alguma iluminação em São Vicente.
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Dali, vimos o dia amanhecer.
Demos um mergulho – e voltamos para São Paulo contando mil lorotas aos sensatos que não quiseram ir.
Foi o melhor que poderíamos fazer.
(Desconfio que ninguém acreditou.)
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Resumo da Ópera, minha cara Sra. Plácida:
Meu melhor carnaval foi mesmo na avenida/sambódromo como repórter.
Pelo menos ali, eu sabia o que estava fazendo.
Ou não…
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Abraços fraternos.
Bom Carnaval, queridos leitores!
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Olga
2, março, 2023Os bailes de Carnaval de clubes era
desse jeito mesmo. Giravamos sem parar., .com os dedinhos pra cima. Comparar os dedos a antenas foi ótima.