Não sei se vocês acreditam.
Eu particularmente tenho um pé atrás com essas coisas que não se explicam, mas acontecem.
Tem vez que eu até gosto.
Vejam a história.
II.
Na tarde de terça-feira, precisei remexer aquelas gavetas onde de tudo se acumula. Procurava o Gravame ou coisa que o valha do carro que quero vender. Como sou absolutamente confuso para essas coisas e todas as outras, montei uma blitz – parecida com essas que estão flagrando bebuns aos volantes – para achar o tal papel, sem o qual necas de pitibiriba de carro novo.
Resultado. No meio do mexe e remexe, eis que me salta às mãos e aos olhos um cartão em forma de quadrado de pouco mais de cinco centímetros. Leio a meia dúzia de linhas, a data – 1976 – e o nome de quem o assina: J. V. Pola Galé.
Lembro de pronto do amigo. Só a generosidade de alguém como o Galé para alinhavar aquelas palavras de despedida e fé no futuro para todos nós que acabávamos de concluir o curso de Jornalismo na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.
Ao longo desse tempo – 32 anos – ouvi falar das andanças e dos feitos do amigo. Muitas vezes, o citei, orgulhoso, em sala nas aulas de História do Jornalismo por vê-lo citado nos documentários que tratam da história de Vladimir Herzog. Imaginei encontrá-lo aqui e acolá em seminários ou reuniões de jornalistas.
Mas, desde então, nunca mais o vi…
III.
Galé era um dos heróicos goleiros – o outro era o Nélson Satto – do time de futebol de salão da ECA. Composto, de resto, por mim, pelo Clóvis, pelo Joãozinho e pelo Geraldo que, um dia, foi torcer por nós e acabou atleta indispensável. Senão, jogaríamos com um a menos.
Bem, não preciso dizer as razões do “heróico goleiro”. Perdíamos mais que o Ibis, mas éramos teimosos: entrávamos em todos os campeonatos da Liga Universitária.
IV.
Pensava numa partida, diante da Medicina, em que conseguíamos virar o primeiro tempo empatando em zero a zero, quando o celular tocou. Era outro uspiano de tempos idos, o Sérgio Gomes, que me convidava para um encontro na manhã de quarta, na sede do Instituto Oboré. Jornalistas e professores de jornalismo se reuniriam etc etc etc. Serjão listou os nomes dos convidados, e pimba! Lá estava, entre eles, um tal de José Vidal Pola Galé, coordenador do Núcleo de Jornalismo da TV Cultura.
Havia agendado um punhado de coisas. Desmarquei todos e lá fui eu rever um amigo que o tempo imaginou ter me roubado, mas reencontrei ontem, nas voltas das voltas que o próprio tempo dá.
Valeu!
V.
A lembrança de um amigo leva a outro…
Não posso terminar esse post/crônica sem me dizer solidário à dor do amigo Marceleza, que não vejo há algum tempo, mas sei que hoje amanheceu triste, triste. Marceleza é Fluminense assim como Chico Buarque, Ivan Lins e Jô Soares.
Não liga, não, Grande.
Essas dores – e todas as outras – só o tempo mesmo para apagar.
Se lhe serve de exemplo, veja o meu caso. Não lembro mais o resultado daquele jogo que citei acima entre ECA/USP e Medicina/USP.
Aposto que nem o próprio Galé, nosso goleiro, lembra que terminou 8 a 1 para os futuros doutores…