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Meus textos favoritos

Explico:

01. Porque o cronista Rubem Braga era – até hoje – uma ausência imperdoável deste modesto espaço;

02. Porque de há muito este texto não me sai da cabeça – não me perguntem por quê?

03. Porque ao publicá-lo hoje afasto toda e qualquer cara-de-pau de tentar fazer algo semelhante – e, obviamente, sem o mesmo encanto…

Assim inauguro hoje a série…

MEUS TEXTOS FAVORITOS

Rita

De Rubem Braga

No meio da noite despertei sonhando com minha filha Rita. Eu a via nitidamente, na graça de seus cinco anos.

Seus cabelos castanhos – a fita azul – o nariz reto, correto, os olhos de água, o riso fino, engraçado, brusco…

Depois um instante de seriedade; minha filha Rita encarando a vida sem medo, mas séria, com dignidade.

Rita ouvindo música; vendo campos, mares, montanhas; ouvindo de seu pai o pouco, o na da que ele sabe das coisas, mas pegando dele seu jeito de amar – sério, quieto, devagar.

Eu lhe traria cajus amarelos e vermelhos, seus olhos brilhariam de prazer. Eu lhe ensinaria a palavra cica, e também a amar os bichos tristes, a anta e a pequena cutia; e o córrego, e a nuvem tangida pela viração.

Minha filha Rita em meu sonho me sorria – com pena deste seu pai, que nunca a teve.

Janeiro 1955
• Dos livros A Cidade e a Roça e 200 Crônicas Escolhidas.

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