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Mil anos a dez

Ao menos até a página 2 do livro da vida de cada um, entendemo-nos especiais. Imaginamos que, ao longo de nossos felizes dias, grandes feitos, realizações e conquistas. Seremos boleiros, cantores de pop-rock, apresentadores da MTV, atriz de novela, top model e por aí vai. De um jeito ou do outro, todos imaginamos uma noite de glória no sofá da Hebe ou a filosofar no programa do Jô ou ainda no centro do Roda Viva (anda meio caído, mas vale pelo prestígio). No mínimo, no mínimo, enxugaremos lágrimas furtivas no Arquivo Confidencial do Programa do Faustão. Que grande figura humana seremos um dia. Ao menos em nossos sonhos mais vãos.

A coisa toda pega quando, mais cedo ou mais tarde, a vida nos revela que não é bem assim. Não somos tudo isso. A Globo não virá bater à nossa porta…

Ao menos para a maioria dos mortais, a história é bem oura.

Melhor ou pior, não sei. Apenas sei que não é assim.

E durma-se com o silêncio do anonimato sob o lugar comum dos dias e noites iguais.

É por aí que vai o entrecho do contundente Foi Apenas Um Sonho, em cartaz em São Paulo. Com direção de Sam Mendes e o casal Leonardo Di Caprio e Kate Winslet, de Titanic, como protagonistas, o filme tem o dom de enredar o espectador na teia de aflições cotidianas das personagens que, pouco mais, pouco menos, são bem próximas de todos nós.

A mão pesada do diretor, o mesmo de Beleza Americana, dá um tom de tragédia à obra. O que, de algum modo, faz o espectador respirar aliviado de estar do lado de cá da tela. Sem maiores ilusões. Aquela teoria que diz “melhor viver dez anos a mil do que mil anos a dez” se mostra, então, bem divertida como letra de rock dos anos 80. Mas, não pode ser levada tão séria assim. Lobão que o diga…

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